Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

10 discos que talvez você não tenha ouvido nesta quarentena (mas deveria)

Tem sonoridades para todos os gostos, incluindo aquelas menos óbvias e que muito provavelmente nem chegaram perto dos seus fones de ouvido como mereceriam de fato — e tá tudo bem, nunca é tarde para experimentar

Por THIAGO CARDIM

Talvez uma das indústrias mais estruturadas (o que não significa JUSTAS, só pra deixar claro) do mundinho do entretenimento, a fonográfica funciona como um verdadeiro relógio, principalmente em suas vertentes mais pop, mais mainstream. Claro, tem uma pandemia aí do lado de fora que fodeu com a vida de todo mundo, isso a gente bem sabe. Mas, mesmo assim, enquanto o cinema tá lá estrangulado, segurando seus medalhões e lutando pra entender como vai ser o tal do BUSINESS a partir de agora, a música não deixou de colocar toda sexta-feira seus próprios blockbusters na rua, RELIGIOSAMENTE, tipo uma Lady Gaga, uma Taylor Swift, uma Katy Perry, aqueles chicletes que, sabemos bem, vão tocar sem parar nas séries, no YouTube, no Spotify, dentro dos nossos cérebros, quer a gente queira ou não.

E não que isso seja, de verdade, um problema. Inclusive, em se falando de música pop, o delicioso disco da Dua Lipa, talvez uma das melhores coisas DO ANO, tá aí pra não nos deixar mentir. A gente gosta de pop por aqui, só pra deixar claro.

Mas, da mesma forma que a gente diz que os gibis definitivamente não se resumem ao mundinho da Marvel e da DC e que Hollywood tá longe de ser o único celeiro de bons filmes, tem muita coisa legal rolando fora dos planos de marketing bombásticos das grandes gravadoras. E isso vale, aliás, para TODOS os gêneros musicais, porque se você gosta de uma parada tipo heavy metal (é, quem me acompanha desde sempre, sabe que esta estava chegando), sai coisa pra caramba por aí além do Metallica e do Iron Maiden.

Aí, fizemos aqui um levantamento de coisas bem interessantes para se ouvir e que foram lançadas ao longo da quarentena sem tanto alarde assim. Ouça as prévias que deixamos por aqui, procure na sua plataforma favorita e JUST PUSH PLAY.

Carnivore (Body Count)

No mundo em que vivemos atualmente, o Ice-T tá liberadíssimo pra reunir os parças e lançar um disco novo por mês, se bem entender. Porque vai ser sempre uma cacetada relevante. E nem tô falando aqui SÓ da sonoridade, este híbrido de rap e rock pesado que é uma cotovelada na boca. Mas sim da mensagem furiosa e direta ao ponto. Por favor, manda mais que ainda tá pouco.

Histórias da Minha Área (Djonga)

Por falar em “mensagem relevante”, a gente vive um momento incrível para o rap nacional — Emicida e Criolo, talvez aqueles nomes mais destacados a sair da bolha, são exemplos claros, fazendo sempre trampos maravilhosos. Mas tão longe de ser os únicos que merecem sua atenção. Escuta só a rima afiada e agressiva do mineiro Gustavo Pereira Marques, que atende pela alcunha de Djonga. Se você, como eu, é branco, só escuta. E presta atenção. Serião.

Aeromantic (The Night Flight Orchestra)

Pra quem manja dos metal barulhento tudo, eu dizer que esta é uma banda formada por integrantes do Soilwork e do Arch Enemy pode significar muita coisa… Pois saiba que significa uma parada totalmente diferente. Aqui, eles fazem uma sonoridade cheia de groove e melodia, um funk rock delícia. E pra quem NÃO manja dos metal barulhento tudo, o que tenho a dizer é “escuta aí que é coisa fina”. Pra dançar e curtir o pôr do sol na janela do seu quarto.


Fetch The Bolt Cutters (Fiona Apple)

Por falar em “rótulos”, aliás, há quem chame Dona Fiona de “indie”, “alternativa”, tanto faz. Isso pouco importa pra ela e tampouco devia importar pra você. Afinal, este novo disco da cantora, praticamente toda calcado em percussões, não demorou quase cinco anos pra ficar pronto por acaso. Que é uma parada bastante experimental, como a gente falou lá no começo do texto, isso é inegável. Mas não dá pra achar SEMPRE que “experimental” é um palavrão. No caso de “Fetch The Bolt Cutters”, é o mais puro amor em uma deliciosa forma de esquisitice.


Petals for Armor (Hayley Williams)

Chega a ser curioso que, no ano em que temos discos de algumas das principais divas pop contemporâneas lutando por espaço e atenção, um dos grandes destaques do cenário seja justamente o primeiro álbum solo da vocalista de uma banda de rock que muita gente não esperava que fosse ser capaz de gestar — bom, quem não conhece a Hayley, realmente não esperava que ela fosse capaz de um new wave synth pop doce e delicado, em um trabalho corajoso e ousado para quem passou uma década liderando uma banda de sucesso.


Ao Redor do Precipício (Frejat)

Temos aqui outro exemplo de egresso do rock que não se acomodou numa caixinha — e se enquanto estava à frente do Barão Vermelho, já arriscava das suas aqui e ali, agora que está definitivamente fora da banda, Roberto Frejat arriscou um lançamento independente mais de 10 anos depois de sua última empreitada solo. Com maturidade e ao mesmo tempo frescor, ele saber colocar pitadas de crítica sem esquecer do amor, flertando até com soul e principalmente blues de uma maneira doce e inteligente. Vale a audição.

Curse of the Crystal Coconut (Alestorm)

Tá bom, paciência, vai ter disco de metal aqui e pronto. E, no caso, para não fugir à regra, vai inclusive ter disco de metal espadinha, aquele bom e velho power metal que eu tanto amo (não me @). Dito isso, a sugestão aqui é esta delícia de álbum dos escoceses do Alestorm, ainda fiel ao tema da pirataria que os tornou famosos. É metal divertido, pra cantar junto e SORRINDO, com refrão, colorido, com bom humor. Repito sempre, para quem quiser ouvir: não tem melhor metal do que aquele que não se leva tão a sério.

Open Source (Kiko Loureiro)

Assim, talvez eu não pudesse estar mais longe de ser exatamente um fã de instrumentistas virtuosos, quiçá então de seus discos solo totalmente instrumentais. Mas desde que resolveu se lançar no mundinho dos álbuns solo, Kiko Loureiro, ex-Angra e atual Megadeth, provou que o solo pelo solo não é a sua praia. Seus trabalhos costumam ser cheios de camadas, diversificados, brincando com melodias brasileiras e fazendo o jazz soar meio baião. Este é mais um caso de um álbum elegante e cheio de estilo, que promete agradar mesmo quem não é músico e tampouco curte firulas performáticas (cof cof Malmsteen cof cof).

Canções d’Álem-Mar (Zeca Baleiro)

Tem várias coisas a se apreciar por aqui. A primeira delas é o próprio Zeca, um cara brilhante e que merecia muito mais reconhecimento do que tem na nossa música brasileira. Outra delas, claro, é ver alguém com o talento dele reinterpretando nomes relevantes da música lusitana. Mas o mais legal é que ele não se focou naqueles medalhões de sempre e sim em nomes do pop português um pouco mais contemporâneo, navegando dos anos 1960 até quase 2010, no que ele chama de “recorte afetivo”. O adjetivo “lindo” cai muito bem.

Hunter Gatherer (Avatar)

Bom, tivemos o Alestorm lá em cima, mas digamos que eles não contam como metal, digamos, metaaaaaaaaaaaaaaaaaaaal, aquele sujo, feio e malvado, pesado, agressivo. Toma aqui, então um exemplar disso. Mas calma que tá longe de ser uma sugestão óbvia. Performáticos e modernos, estes suecos soam atuais, sem precisar usar referências como muleta, e aqui neste disco resolveram exploram um lado mais sombrio, claustrofóbico, à base do medo e da ansiedade que estão ao nosso redor HOJE. Tem groove, tem eletrônico, tem flertes com System of a Down e Slipknot, tem um vocalista que sussurra e ruge. E, ainda assim, isso é 100% Avatar.