Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

Novas experimentações em uma nova versão de Terror Comprimido

A ilustradora, quadrinista e escritora Manoela Costa financia uma versão revisada de sua antologia Terror Comprimido, com um conto inédito entre diferentes olhares para o horror, suspense e com umas pitadas de ficção científica


Por THIAGO CARDIM


“A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido”. A frase, do igualmente cultuado e discutido H.P. Lovecraft, é usada para ilustrar o conceito do livro Terror Comprimido, da escritora e ilustradora Manoela Costa, que compila histórias curtas de horror bebendo de fontes diversas como o próprio Lovecraft, o clássico Além da Imaginação e até o hypado autor japonês Junji Ito.

“Acho que existe algo mágico que acontece quando crianças se juntam pra contar histórias de terror que elas inventaram ou ouviram de um amigo de um amigo (e isso prova que com certeza aconteceu de verdade!). Era isso que eu queria trazer nessa antologia”, explica ela, em entrevista exclusiva pro Gibizilla.

Financiada originalmente em outubro de 2021, a publicação teve sua primeira tiragem completamente esgotada – mas, no final de 2022, a autora criou uma nova campanha do Catarse para uma segunda impressão, cheia de novidades. “Conheci muitas pessoas novas durante a própria campanha do Catarse que mais tarde vieram falar comigo sobre o livro e eu fiquei muito emocionada com o quanto eles haviam se envolvido com aquelas histórias”, explica ela. “Depois de encaminhar todos os volumes para os apoiadores, levei os que restaram para o FIQ BH, e lá a primeira tiragem foi esgotada”.

Manoela revela ainda que, mesmo durante o evento, tinha gente que levava o livro em um dia e aparecia no outro só pra comentar qual tinha sido seu conto ou história favorita. “Quando o último livro saiu da mesa e literalmente atrás dessa pessoa surgiu outra perguntando sobre o Terror Comprimido, eu entendi que precisava fazer uma segunda tiragem”.

A nova versão, também apoiada com sucesso, tem uma revisão caprichada, brindes novos para quem adquirir o volume físico e, é claro, um novo conto: “À Deriva”. Além disso, todos que apoiaram este segundo financiamento coletivo tiveram acesso a todas as metas estendidas que foram alcançadas na campanha anterior, incluindo o audiobook completo.“A produção do audiobook foi uma das coisas mais satisfatórias que veio como resultado da campanha anterior no Catarse. Cada conto era uma meta estendida e nós batemos todos, o que por si só já é muito empolgante”, conta ela. O audiobook foi produzido entre amigos e entusiastas da literatura, pessoas com as quais Manoela sempre teve o hábito de praticar leituras coletivas em voz alta. “Se você curte ler, deveria tentar isso também!”, brinca. “Sempre tivemos o hábito de brincar, fazer vozes e dar emoção à leitura. A criação do audiobook foi uma progressão natural desse desejo de transformar o texto em voz, sons e música. Tenho a agradecer sobretudo aos amigos do Café Literário, um grupo que me ensinou muito e me acompanhou durante toda a jornada de produção do livro e com os quais dividi muitos de meus textos (e eles dividiram os seus comigo”.

Mas vamos às apresentações…

Manoela vem trabalhando com arte desde muito cedo, mas se formalizou e iniciou a carreira em tempo integral em 2013, exatamente dez anos atrás. Participou da criação de jogos, revistas, periódicos e muitos, muitos livros. Teve ainda seu trabalho de ilustração publicado em diversas editoras e periódico como Editora Abril, Editora Skript (Pândega, Skriptzine, Crônicas 2020), Revista Mundo Jovem (PUCRS), Editora Novo Século, Book Espírita Editora, Editora Pandorga, entre outras. “Criar capas é uma das minhas paixões, afinal eu simplesmente amo livros. Depois de algum tempo, tive a oportunidade de criar quadrinhos para clientes no exterior. Não demorou muito até eu me dar conta de que eu queria contar minhas próprias histórias também, fosse no formato de quadrinhos ou de prosa. Daí começaram a surgir ideias que semearam minha jornada até onde estou agora”.

Terror Comprimido foi uma obra que surgiu muito espontaneamente a partir de uma série de experimentações. A coisa toda começou sem grandes ambições, eram contos que ela produzia para testar formatos de escrita e quadrinhos que produziu para alguns zines. “Sempre gostei de histórias curtas. Acho que existe um impacto muito grande na capacidade de criar emoções e atingir o clímax de uma narrativa em um espaço curto de tempo. E sim, eu também gosto de creepy pastas, tente não me julgar”. Sem julgamentos aqui, eu juro. <3

Ela completa dizendo que, como curte muito histórias de terror, todos eles acabaram orbitando em torno desse tema. “Quando me dei conta, tinha em minhas mãos uma pequena antologia esperando pra ser editada! Voilá!”.

Manoela também diz que, nesse livro, explora seus subgêneros favoritos de terror, com uma pegada de suspense e horror psicológico, misturando ficção científica e até algumas situações terrivelmente próximas da nossa realidade. “Os contos e quadrinhos podem ser lidos separadamente, fora de ordem, ou de uma vez só. Organizei as narrativas de uma maneira que me pareceu apropriada, alinhando temas que ressonavam entre si. No final, acho que todas as boas histórias de terror são assim: nos forçam a encarar nossos medos”.

Terror Comprimido
Terror Comprimido

Sobre mulheres e terror

Impossível, claro, deixar de perguntar – temos tido, em diferentes plataformas, uma série de vozes femininas começando a se tornar mais visíveis na produção de narrativas de terror. Afinal, a Manoela acredita que o olhar da mulher para o terror permite um sabor que foge daqueles clichês clássicos? “Com certeza”, responda ela, na lata. “As vivências femininas em nossa sociedade são outras, nossos medos e desafios são diversos e é mais do que importante fazer com que sejam vistos: é essencial para a construção de uma sociedade mais empática e diversa”.

Para a escritora, trazer, com toda a honestidade que pudermos, narrativas de terror que refletem as experiências femininas, significa forçamos à superfície coisas aterrorizantes das quais precisamos falar. “Uma história de fantasmas é assustadora pois um poder invisível aos olhos dos outros nos atormenta. Zumbis são macabros pois são uma força do passado, que deveria estar morta, e ainda assim volta para nos assombrar. Possessões demoníacas nos dão calafrios devido à ideia de que algo toma nossos corpos e somos impotentes diante disso. Dá pra entender aonde quero chegar?”.

Ô se dá.

E neste momento, ao rever Terror Comprimido, ao reler a sua obra depois de algum tempo, ela enxergou algo de muito diferente, que talvez a tenha feito querer mudar um pouco mais do produto final? “Pra ser muito honesta, não. Não falo isso por achar que o livro é perfeito ou impassível de correções, afinal, estou revisando ele justamente por isso! Mas não mudaria nada estrutural nele pois vejo que a espontaneidade com a qual ele surgiu e foi crescendo é o que o torna autêntico ao seu propósito: uma série de pequenas histórias que eu queria contar pra vocês, debaixo de uma tenda improvisada com um cobertor, uma lâmpada velha acesa entre nós e a escuridão à nossa volta”.

Pra quem ficou curioso, basta dar uma olhada no site da Manoela ou então na lojinha, onde dá pra comprar Terror Comprimido ou então a fantasia Animus – A Magia Selvagem.


Post tags: