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O filme da Barbie não vai acabar com o machismo – mas vai te fazer rir dele

Agora, a gente traz uma mais do que necessária perspectiva FEMININA sobre a chegada da icônica boneca aos cinemas

Por GABRIELA FRANCO

Então, os cinemas finalmente receberam o tão esperado (e fruto de um marketing massivo da Warner e da Mattel) filme da Barbie – estrelado por Margot Robbie, que encarna a boneca sexágenária que mudou a indústria de brinquedos e que teve um grande impacto social na forma como as mulheres se enxergavam e eram percebidas em grande parte do mundo ocidental.

O longa inundou as redes sociais e todas as mídias de rosa choque e glitter desde o ano passado, apostando novamente em uma fórmula que parece batida, mas que pelo jeito sempre dá um caldo se você espremer bem: a nostalgia.

Para entender a história do filme, sugiro você dar uma lida neste texto aqui, do Thiago. Mas, antes de tudo, antes de falar do FILME, a gente vai falar de história, com H maiúsculo.

Entre meninas, mulheres e bonecas

Nas mais priscas eras, para embalar a infância das meninas, havia basicamente bonecas que emulavam bebês, o que fazia com que as garotas que brincavam com elas se enxergassem apenas como MÃES.

Até que, em 1959, a judia Ruth Handler, querendo que sua filha Bárbara (daí o nome Barbie) tivesse outras opções de brincadeiras que não só a de perpetuar o ciclo de cuidar de um bebê, criou uma boneca que mais parecia uma modelo de capa de revista dos anos 1950.

Seu objetivo era fazer com as meninas imaginassem situações diversas com ela, se enxergassem nela e, o PRINCIPAL e mais divertido de tudo: mudassem seu figurino. Praticamente uma versão 3D das bonequinhas de papel que mudavam de roupa, lembram?  O sucesso foi imediato e o resto é a história que culminou no filme.

Porém…

Nós estamos bem cansadas de saber QUAIS são os problemas que a institucionalização de modelos de beleza como o da Barbie podem trazer. Branca, loira, ocidental, magra, alta, peituda, blablablá. Claro, culpar a criadora ou a criatura por impor um padrão inalcançável me parece meio insensato já que a boneca era apenas um reflexo dos arquétipos e pressões da época e que existiam (e resistiam) muito antes dela.

Arquétipos estes que foram mudando e se adaptando ao longo do tempo, fazendo apostas boas e ruins, afinal ela sempre foi isso: um produto para entretenimento e consumo baseado nas inseguranças que esses padrões nos causam.

E esse é justamente o papel do filme da Barbie: um produto para entretenimento, bancado pela fabricante da boneca. Praticamente um branded content, uma propaganda disfarçada de conteúdo.

Mas, exatamente como os modelos mais clássicos da boneca, o filme também vem recheado de acessórios que, como produto cultural de massa, tendem a causar algumas reflexões. E nisso, temos que tirar o chapéu para a diretora Greta Gerwig.

Margot Robbie (Barbie) e Ryan Gosling (Ken)
Margot Robbie (Barbie) e Ryan Gosling (Ken)

Todos os pontos de questionamento estão lá – bom, se não todos, pelo menos os principais: a Barbie como padrão inalcançável de beleza e o quanto isso foi e pode ser nocivo; as tentativas de corrigir o problema ao longo do tempo na variação de corpos, etnias e traços que a boneca adotou; o machismo, obviamente, ainda que não em todas as sua formas e sutilezas mas personificado no papel do Ken e os reflexos políticos e econômicos disso no mundo real nos papéis sociais e de gênero…

Além disso, “Barbie” também aborda o papel psicossocial e educacional das brincadeiras de criança e o quanto elas influenciam na formação de nossa psiquê e na forma como nos enxergamos no mundo, entrando ainda de cabeça no gap geracional do relacionamento entre mãe e filhas e nos prós e contras de cada época nos laços familiares.

Para finalizar, claro, estamos falando de um filme que TAMBÉM aborda o impacto do capitalismo sobre tudo isso, a cereja do bolo rosado.

Sim, sim, capitalismo, é ele, sempre ele

Vamos lá, minha gente, estamos falando de um filme viabilizado pela Warner Bros, um dos maiores estúdios da indústria estadunidense do cinema (que, inclusive está paralisada no momento por conta de greves devido às injustiças perpetradas por essas mesmas instituições) e pela Mattel, que lucrou em cima de todos os problemas listados acima e que faz um “mea culpa” no filme que, para mim foi a única coisa que não caiu muito bem ali.

Deu um tanto de azia.

De resto, o filme da Barbie é o que se propôs a ser: um produto de entretenimento, DIVERTIDO, INTELIGENTE, que traz alguns pontos de reflexão SIM, mas com leveza, ludicidade, bom humor e de fácil compreensão.

Traz debates políticos, sociais, educacionais, econômicos, emocionais e que, em momento algum, teve a presunção de ser um clássico da Sétima Arte ou um marco político do cinema, mas que está cumprindo lindamente o seu papel: o de trazer temas importantes à reflexão e à discussão.

Esses debates nem de longe sufocam todo o rosa, o brilho, a alegria e o saudosismo que saltam do filme e que o tornam delicioso. 

Tenho certeza que o filme da Barbie vai ser muito mais eficaz no exercício de fazer a grande massa pensar do que muito discurso chato e militância inócua de internet. Se isso acontecer, já valeu e MUITO.

O filme da Barbie não vai salvar o feminismo nem acabar com o machismo ou com o capitalismo. Mas se deixar uma pulguinha cor-de-rosa atrás da orelha de cada um que  assistir, tá mais do que bom. Tá é super. 

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