Um novo olhar sobre o apocalipse em Reino Vazio

Novo volume da HQ independente nacional dá mais detalhes sobre o que está por trás do misterioso desaparecimento global dos animais

Por THIAGO CARDIM


Mais de vinte anos atrás, quando me tornei vegetariano, as duas frases que eu mais ouvia eram “mas frango e peixe você come, né?” e “ah, cara, os animais estão aí pra isso, pra gente se servir deles, nós somos o topo da cadeia alimentar”. Esta última frase eu sempre respondia com a frase do Homem-Animal (que virou vegetariano) no gibi escrito pelo Grant Morrison (que também virou vegetariano): “eu nunca vi um rato soltando uma bomba atômica para matar a sua própria espécie”.

O lance é que os animais, como um todo, estão ao nosso redor nos “servindo” não apenas como alimento – mas como transporte, como cobaias de teste, como parceiros de trabalho, como companhia e suporte emocional… Agora, imagine que eles simplesmente desapareceram.

Assim, puff, de uma hora pra outra, todos os bichos do mundo, à exceção obviamente dos seres humanos, somem da face da Terra. Te lembra um tanto “Y: O Último Homem”? Pois este é o mote da HQ nacional “Reino Vazio”, com roteiro de Claudio Alves e arte de Daniel Alves, que chega agora ao seu terceiro volume, totalmente independente.  

O capítulo original foi lançado em 2018, após ser contemplado no ProAC de 2017. Já o volume 2, com o subtítulo “Sobrevivendo ao Fim”, foi lançado em 2022. Agora, chega “Reino Vazio – A Origem da Vida”, que mostra a protagonista Ana mais perto de descobrir a relação da sua mãe, assassinada diante dela à queima-roupa, com o chamado Blecaute (o nome do incidente que fez desaparecer misteriosamente toda a existência da vida animal) e para quem ela e sua equipe científica trabalhavam.

Fantasia ou… realidade?

Como um todo, “Reino Vazio” é uma história que já tem previsão de encerramento, sendo uma saga pensada com começo, meio e fim. “Sim, ela terá ao todo quatro edições”, revela Claudio, o autor, em entrevista exclusiva ao Gibizilla, já deixando claro que o próximo número encerra, portanto, a trama central. Mas ele deixa claro que pode não ser exatamente o fim deste universo em seus projetos futuros. “Esses quatros números vão ontar a história central da trama e principalmente o porquê do sumiço dos animais, mas quero explorar o cenário muitas vezes abordando outras situações e novos personagens”, diz.

Roteirista de histórias em quadrinhos e professor de roteiro em cursos e oficinas e organizador eventos de quadrinhos desde 2007, Claudio conta que esta nova HQ  evolui a história, revelando cada vez mais o que está por trás do desaparecimento dos animais, alguns encontros inesperados, o destino de alguns personagens e a preparação da trama para o seu capítulo final. 

Estamos falando de um mundo no qual os líderes globais e seus respectivos governos não conseguem dar uma resposta adequada a esta tragédia e agora enfrentam a conflagração de insurgências por toda a parte, espalhando caos, destruição e mortes – com uma escalada descontrolada de conflitos que causa o temor de uma guerra mundial sem precedentes.

“Do jeito que a humanidade vem tratando a fauna, nos faz refletir o quanto esse cenário pode estar próximo”, opina o roteirista. “Animais entrando em extinção, a caça predatória sem nenhum tipo de controle, entre outras situações, acredito que se não houver conscientização, logo teremos dificuldades e problemas sérios com o ecossistema do planeta. Então, ‘Reino Vazio’ infelizmente pode ser mais próxima da realidade do que deveria”.

“Reino Vazio – A Origem da Vida” é um projeto contemplado pela Lei Paulo Gustavo de Diadema de 2023 na categoria “leitura” – e isso é algo, aliás, de que Claudio se orgulha bastante. “O ‘Reino Vazio’, nas suas edições lançadas até aqui, sempre contou com apoio das Leis de Incentivo à Cultura, o que possibilitou a obra ser impressa colorida”, reforça. “Por isso, sempre reforço a importância de lutarmos para que tenha mais editais públicos para ajudar os artistas independentes”.

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