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Feisty & Furryous: a vida é dura por trás da fofura

Disputando o grande prêmio do site Webtoon, HQ da dupla Petra Leão e Roberta Pares traz discussões a respeito de rolês bem humanos, sob o traço dos nekomimi

Por THIAGO CARDIM

Vamos lá, fala sério: a HQ chama “Feisty & Furryous”. Só por isso, de imediato, eu já teria vontade de dar uma chance à obra. Mas a parada vai além. “Feisty & Furryous é a história de Buddy, um jovem rapaz ingênuo e otimista, assim como de seus amigos, tentando se manter fiel a sua natureza e ser um bom garoto em meio ao mundo adulto, que pode ser um habitat tão perigoso e hostil quanto uma selva”. 

Esta descrição, vinda diretamente da roteirista Petra Leão, em entrevista exclusiva pro Gibizilla, torna tudo ainda mais apetitoso. “Já fazia bastante tempo que eu tinha vontade de trabalhar com uma história que falasse de animais, traçando esses paralelos entre eles e os seres humanos. Adoro bichos desde criança, sempre gostei de ler e descobrir informações a respeito deles, e isso só ficou mais forte com o tempo”.

Mesmo hoje, depois de adulta, ela diz, vídeos de bichinhos de todos os tipos e lugares são os campeões de audiência no celular dela. “Acho que foi um caminho natural observar esses diversos tipos de fauna e ficar imaginando como os animais seriam se fossem humanos, levando em conta seus traços comportamentais”.

Fora que, falando de forma bem otaku, a Petra conta que sempre achou uma graça os chamados “nekomimi” (personagens humanos com orelha de gatinho, bem comuns nos animes e mangás), e foi inevitável acabar imaginando como seria trabalhar esse conceito à maneira dela. “E desde o começo eu queria que fosse a Roberta Pares desenhando, pois trabalho com ela há muitos anos, e sabia que no traço dela os personagens iam ficar adoráveis do jeitinho que eu queria que fossem”.

Mas quem são os fofinhos, porém ferozes?

A personalidade de cada personagem é representada por um animal: Buddy é otimista e ingênuo, por isso é representado com orelhas e cauda de cachorro; Mia, sua melhor amiga, é graciosa mas bem exigente e autocentrada, então é representada com orelhas e cauda de gato, e assim por diante. Nem todos os personagens são pets, alguns são animais selvagens que só pensam na própria subsistência, e outros são perigosos como predadores (como na vida real, onde quem está no “topo da cadeia alimentar” só quer engolir quem está abaixo.)

Portanto, sim, apesar do visual “fofinho”, muitos dos temas abordados na HQ são mais “complexos”, digamos assim, com uma camada de compreensão que ultrapassa a comunicação infantil. “Com toda a certeza! A ideia é brincar com a estética fofa e fazer uma história sobre as dificuldades da vida, porém com um tom lúdico e divertido, como em uma fábula moderna. Aliás, a classificação etária dessa HQ no Webtoon é de Young Adult”, explica Petra – conhecida por já ter trabalhado nos roteiros de “Turma da Mônica Jovem” e “Chico Bento Moço”.

Ela admite que não é uma ideia nova, já que esse tipo de contraste já foi explorado em obras como Aggretsukko, o filme Encantada e o musical Avenue Q. “Mas eu queria fazer do meu jeito e com uma pegada brasileira”.

Um webcomic em busca do prêmio do Webtoon

A roteirista conta que, na verdade o Webtoon não foi o primeiro formato que escolheu. “Quando convidei a Roberta pra desenhar essa história, a ideia era fazer tirinhas para colocar no Instagram. Sempre amei Mafalda, Peanuts e Calvin & Haroldo, mas a vontade de trabalhar com esse formato mesmo veio depois de acompanhar as tiras que deram origem ao Livro dos Pássaros, da Lark, que achei super inspirador”.

Petra e Roberta chegaram até a desenvolver algumas tiras, mas no meio do caminho apareceu o anúncio que o Webtoon estava promovendo um concurso pra buscar talentos que trouxessem novas histórias pra plataforma. “Nós duas, enquanto leitoras do Webtoon, ficamos com muita vontade de participar e explorar esse formato também, então adaptamos o projeto”.

A própria Petra explica que conheceu o Webtoon em 2019, quando começou a ler Lore Olympus e de cara se encantou com essa mídia. “A maneira como o Webtoon resolveu o formato de HQs fora do padrão de tirinhas me interessou de cara — ter um espaço infinito para desenvolver uma história através do scroll oferece diversas possibilidades e realmente alça a linguagem da HQ a outro nível, a um novo modo de pensar. Em vez de bolar a narrativa dividida por páginas, é interessante pensar em como uma história pode ser contada verticalmente”.

Ela diz que, com esse formato, os ganchos e surpresas que às vezes você guardava para a virada de uma página pra outra, podem ser usados de um quadro pro outro. “Fora que acho que é uma boa saída pra tornar as HQs mais acessíveis (pra quem fala inglês, pelo menos)”.

No próximo dia 23 de junho, o Webtoon vai anunciar (neste link) o shortlist com os finalistas de seu concurso – e, obviamente, estamos torcendo para que “Feisty & Furryous” esteja entre eles, na busca pelo prêmio milionário. Mas pra quem já trabalhou tanto tempo com gibis impressos, não fica aquela tentação de “ah, quem sabe lá na frente, a gente não traz isso pra uma HQ física”? Ela admite que sim.

“Apesar de curtir o Webtoon, o impresso sempre terá um apelo especial pra mim”, diz. “Adoraria fazer um impresso de Feisty & Furryous (ou ‘Ferozes e Furryosos’, como gostaria que chamasse em português!). Mas se vai acontecer ou não, aí vai depender de como vamos nos sair no concurso, pois os vencedores fecham exclusividade com o Webtoon”, diz. “Mas se não rolar, com certeza gostaria de explorar essa possibilidade pra HQ futuramente”.

Ficou curiosim? Pois então dê essa moral pras autoras e vá ler “Feisty & Furryous” lá no Webtoon CLICANDO AQUI.

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