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Um velho conhecido para uma nova Conrad

Editora traz de volta, dezessete anos depois, o editor Cassius Medauar para gerenciar seus novos planos, que passam principalmente por entender a força do digital

Por THIAGO CARDIM

Depois de sete anos cuidando da área de conteúdo da JBC, dá pra dizer que o nome de Cassius Medauar meio que virou sinônimo de “mangá” no Brasil. Afinal, foram sete anos editando clássicos como Cavaleiros do Zodíaco, Akira e Ghost in the Shell, além de criar o canal Henshin! Online e o concurso de novos talentos Brazil Manga Awards. Mas, por causa da crise econômica, a parceria chegou ao fim em junho do ano passado.

Muita gente apostava que a experiência faria com que o Cassius retornasse ao mundo das publicações nipônicas, mas depois de quase um ano como tradutor freelancer, ele encontrou uma nova casa em um lar antigo. “Depois de muitas conversas e de pensar bastante. acabei aceitando por ser o lugar que me lançou como editor e pelo desafio de reconstruir o bom nome da Conrad”, conta ele, em um papo exclusivo com o Gibizilla.

Pra quem não lembra, antes da JBC, ele foi editor da Pixel mas, antes disso, entre os anos de 2000 e 2003, teve sua passagem pela Conrad. O profissional que retorna, no entanto, agora como gerente editorial e publisher, é alguém MUITO diferente. “Posso dizer que a diferença é quase total. Aquele Cassius estava começando no mercado e tinha muito a aprender. Volto um profissional consagrado, com muita experiência, mas ainda aprendendo e cheio de vontade de atualizar a Conrad pros tempos atuais”.

Lembremos que, quando a Conrad surgiu no mercado nacional, lá em 1993, foi pioneira justamente no universo dos mangás, sendo a primeira a colocar não só Cavaleiros como também Dragon Ball nas nossas bancas. De lá pra cá, muita água rolou por baixo da ponte e a editora deu uma “sumida”, sendo engolida por tantas e tantas novas opções diferentes. A ideia do editor, que vai contar com a consultoria de Guilherme Kroll, da Balão Editorial, é dar cara nova. Uma nova Conrad está nascendo.

A primeira missão do Cassius, neste momento inicial, é ENFIM terminar a coleção de Calvin e Haroldo no Brasil – faltavam apenas dois álbuns. “Já lançamos o 17o, O Indispensável de Calvin e Haroldo, e pretendemos ainda este ano lançar o Exploring Calvin and Hobbes. Além disso, reimprimimos os volumes esgotados, deixando assim a coleção inteira disponível aos leitores”, diz. Será que existe alguma chance de vermos em breve o box set The Complete Calvin and Hobbes, sonho de colecionador com acabamento de luxo e reunindo toda a obra de Bill Watterson? “Seria bem legal se conseguíssemos lançar, mas é um contrato separado e precisamos estudar a viabilidade de lançar algo daquela grandiosidade”.

Por enquanto, de novidade, a editora já anunciamos Woman World, de uma autora canadense chamada Aminder Dhaliwal. Trata-se de uma HQ que mostra, de forma bem-humorada, um mundo onde uma falha genética fez com que não nascessem mais homens. “Fora isso, acabamos de lançar nosso plano digital com Duo.tone, do Vitor Cafaggi. Vamos lançar autores nacionais de duas formas: em e-books completos e também em HQs em capítulos semanais, como fazem os japoneses, por exemplo”.

Outras obras dentro do cronograma de publicações digitais da Conrad são Traje de Rigor, adaptação em quadrinhos feita por Gustavo Lambreta do conto homônimo de Marcos Rey, e Echoes, mangá escrito e desenhado por Eliana Oda, que se passa em um mundo fantástico chamado Feera, habitado por deuses, espíritos e humanos.

Em se falando neste momento digital, aliás, não dá pra esquecer, CLARO, da lindeza Mayara & Annabelle, da dupla Pablo Casado e Talles Rodrigues, favorita aqui do Gibizilla. As duas integrantes do SECAFC (Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum) já saíram em edições independentes mas agora serão relançadas, em busca de um público ainda maior. “De cara, os capítulos digitais já apresentarão alguns pequenos mimos diferentes do impresso, uma introdução aqui, um fechamento de capítulo acolá. Além disso, pretendemos lançar edições impressas também, mas em um formato diferente do que já saiu antes. Ainda estamos estudando como”, conta Cassius. “E, bom, eu também acho Mayara & Annabelle incrível e gostaria muto de lançar histórias novas no futuro, mas isso dependerá de como forem as coisas neste primeiro momento”.

Estão previstos ainda Sonhonauta, de Shun Izumi, e Makai Mail, de Jayson Santos, ambos também em capítulos, além de Indivisível, de Marília Marz, e Cais do Porto, de Brendda Maria.

“Eu acho que o digital é um caminho importante, mesmo antes de falarmos em pandemia”, opina o editor, que já chegou na Conrad bem no olho do furacão que nos assola. “Acho que hoje em dia é muito importante darmos opções aos leitores. Acho que digital e impresso se complementam e acredito que, com as bancas de jornal agonizando, o digital pode ser um caminho importante para lançar algumas coisas com valores mais em conta”.

Para ele, no entanto, com TOTAL RAZÃO, o maior desafio para um mercado editorial mais amplo aqui no Brasil não é a dicotomia entre digital e impresso – na real, é o Brasil mesmo. “Enquanto não houver um plano maciço de incentivo à educação e leitura, ficaremos apenas nos paliativos. As várias iniciativas de todos que gostam de HQs, de editoras e leitores, sempre vão bater nesse muro da falta de um projeto educacional melhor”.

Seguimos lutando por isso.