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Calma, isso não é um teste: o filme dos Novos Mutantes realmente estreou!

E sejamos brutalmente honestos aqui – ele não é nem de longe tão ruim quanto poderia ser. Na verdade, é até melhor do que MUITA coisa com a assinatura Marvel…

Por THIAGO CARDIM

Parecia uma eternidade desde eu que tinha sido convidado pra bater um papo com o diretor Josh Boone e o roteirista Knate Lee, em pleno clima de CCXP, a respeito do filme dos Novos Mutantes. O primeiro trailer, num clima meio filme de terror, soava bastante promissor. Boone estava empolgado e parecia conhecer e gostar BASTANTE do material original. Falamos inclusive do traço inesquecível de Bill Sienkiewicz e da dupla de personagens Cifra e Warlock, favoritos dos fãs (incluindo este que vos escreve), de potenciais planos pra uma continuação…

Sabe quando foi isso? Em 2017. Três anos atrás.

De lá pra cá, além de um incontável número de adiamentos, com uma nova data de estreia sendo anunciada depois da outra, a produção ainda encarou a compra da Fox (estúdio responsável até então pelos filmes dos mutantes da Marvel) pela Disney, o lançamento daquela coisa TENEBROSA que atende pelo nome de X-Men: Fênix Negra e o encerramento da grande saga de Thanos no MCU.

Agora, em outra casa, no meio de uma pandemia, enfim os Novos Mutantes ganham sua chance nas telonas. De um jeito bem esquisito, diga-se. O timing, obviamente, é o pior possível – e parece claramente que a casa do Mickey Mouse tá querendo, apenas e tão somente, se livrar deste peso nas costas, desengavetar logo um projeto problemático e partir pra próxima. Assim sendo, sem conexão clara com a x-franquia anterior e tampouco com o universo cinematográfico da Casa das Ideias, estes xóvens vivem uma aventura fechada, com começo, meio e fim, totalmente autocentrada.

O que, sejamos francos, tá longe de ser uma notícia ruim, é bom que se diga.

Assim, vamos lá, hora da honestidade. Novos Mutantes não é, UAU, uma maravilha de filme. Talvez se beneficiasse, inclusive, de um orçamento maior para a pós-produção, dando uma melhoradinha nos efeitos especiais, coisa e tal. Tudo bem. Mas está longe de ser esta porcaria que muita gente pinta por aí. É um filme de elenco enxuto, de curta duração, sem exageros, sem excessos. A interação entre os cinco personagens principais, a química entre eles, funciona que é uma belezinha.

No fim, Novos Mutantes é melhor SIM do que alguns dos mais recentes filmes com os X-Men que nos fizeram engolir como a última grande coisa, tal qual Fênix Negra e o igualmente pretensioso e horroroso X-Men: Apocalipse. E, bom, gostem desta afirmação ou não, é melhor até que do que C E R T O S filmes do próprio time da Marvel Studios (sim, Era de Ultron, estou olhando exatamente para você neste momento).

Na história, vemos um bando de jovens mutantes sendo tratados dentro de uma espécie de hospital como um “estágio” para que estejam sendo preparados para o próximo passo, na escola do Professor Xavier. Mas a tal clínica pouco a pouco se revela muito mais uma prisão, ao mesmo tempo em que os cinco vão se tornando um grupo coeso e enfrentam seus próprios pesadelos, que aparecem quase que magicamente depois da chegada da jovem nativo-americana Dani Moonstar (Blu Hunt), que ainda não entende muito bem suas habilidades.

O resumo é BEM este e, vamos lá, a trama nem foge muito disso, sem muitas reviravoltas rocambolescas — e talvez aquela que seja a maior “surpresa”, na real, já estava clara como água desde o começo da projeção. Só que isso não estraga o filme e ele nem depende lá muito disso. E enquanto a médica mutante Dra. Cecilia Reyes, vivida pela brasileira Alice Braga, e o Mancha Solar interpretado pelo também brasileiro Henry Zaga, não sejam lá tão importantes assim e mais ocupem espaço em tela do que qualquer outra coisa, a Lupina / Rahne Sinclair de Maisie Williams é suficientemente simpática, carismática, apaixonante. Uma gracinha.

Do outro lado, no entanto, temos a Illyana Rasputin, a Magia, irmã do Colossus, que simplesmente rouba a cena. Ela é BEM foda e, de verdade, queria muito vê-la sendo aproveitada em algum lugar aí pra frente (Kevin Feige, meu querido, fica aí a dica).

De antagonista que se odeia imediatamente por bater de frente com a Dani, repleta da mais pura escrotidão e uma EMPÁFIA que fica clara só no olhar, ela rapidamente se torna alguém por quem você se pega torcendo, que assume o papel de heroína sem pestanejar. E quando ela libera a espada de energia e conversa com o dragãozinho Lockheed, impossível não deixar o leitor dos gibis dos anos 1990 em mim dar um gritinho de satisfação.

Muito disso, claro, se deve à ótima performance da jovem atriz Anya Taylor-Joy, que finalizou este diabo de filme muito antes de se tornar a atual queridinha do streaming por conta dos Gambitos da Rainha (é óbvia, não pude evitar, me perdoem).

Vale se arriscar na atual situação em que vivemos e ir ao cinema para ver ESTE filme? Não. Mas eu sou do tipo que acredita que não vale se arriscar para ver NENHUM filme no cinema ainda, então… Aí você decide. ¯\_(ツ)_/¯