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Pequena crônica do show da Alanis em SP

Um olhar mais pessoal e menos em formato “crítica” a respeito da celebração ao vivo de um álbum que fez parte da minha vida – e tenho certeza que também de cada uma das pessoas naquele Allianz Parque completamente lotado

Por GABRIELA FRANCO


– Mãe, vamos assistir um filme hoje?
– Não dá, meu amor, vou num show.
– Oxe, de quem?
– Alanis Morissette.
– Quem é essa?


Este diálogo é real. E aconteceu aqui em casa mesmo, na tarde desta terça-feira, dia 14 de novembro, entre eu e filhote adolescente, do alto de seus 15 anos.

Mas a Gabi adolescente, ah, esta sabia muito bem quem era a Alanis.

O show de abertura, da cantora baiana Pitty, também foi uma celebração – no caso, dos vinte anos de seu disco de estreia, “Admirável Chip Novo”. Ela conversa com uma outra geração, que não era a minha. O som da Pitty não me pega, mas eu pegava muito ela (#fato). De qualquer forma, funcionou, até sob um ponto de vista TEMÁTICO, como um excelente esquenta para o que vinha na sequência. E se o seu relacionamento não é tipo a letra de “Equalize”, então tá errado.

Mas quando a Alanis entrou no palco, aí me pegou.

Me vi chorando desde a primeira música, “All I Really Want”. Na celebração dos quase 30 anos de “Jagged Little Pill”, esse disco que mudou minha vida e me acompanha até hoje. Um verdadeiro fenômeno na época, aqui interpretado em show único no Brasil com todas as 12 faixas tocadas por uma Alanis de energia impressionante, numa turnê que chega por aqui com atraso, mas tudo bem. O que importante é que a mulher parece que entrou num DeLorean diretamente dos anos 1990 pra 2023.

Leia também: entendendo um pouco mais a respeito de Jagged Little Pill

Cantando com potência, raiva e angústia roqueiras, ela não parou. Correu de um lado pro outro, dançou, interagiu (de maneira econômica, claro) com a plateia, provocou a sua banda (competentíssima, por sinal), rodou sem parar como se fosse o peão da casa própria (entendedores entenderão), tocou gaita, sentou o dedo na guitarra… E a voz, ainda com a mesma garra de sempre, preenchendo cada centímetro do palco e até arriscando uma ou outra expressão em português.

A plateia (eu incluída) enlouqueceu e cantou cada palavra de faixas como “You Learn”, “Hand in My Pocket”, “Head Over Feet” e “Ironic” – que foi um momento arrepiante, em uníssono, milhares de vozes sentindo cada trecho da letra. Sem a necessidade de qualquer tipo de superprodução, luzes ou pirotecnia. A música dizendo o que precisava dizer, se conectando com a gente da mesma forma, 11 anos desde a última vez que ela pisou por aqui.

Além das faixas de “Jagged Little Pill”, o show também trouxe canções de outras fases da carreira da cantora e compositora, por vezes acompanhadas por trechos da vida de Alanis nos telões – como no caso de “Ablaze”, composição em homenagem aos seus filhos. Rolou espaço até mesmo para uma bela homenagem emocional ao falecido baterista Taylor Hawkins, do Foo Fighters, que chegou a fazer parte da banda de apoio de Alanis.

No bis, depois de “Uninvited”, aquela faixa apoteótica, dolorida e agridoce da trilha sonora do filme “Cidade dos Anjos” (1998), não dava pra encerrar com outra canção que não fosse a catártica “Thank You”. Pô, ela diz “obrigado”, mas na real é a gente que agradece.

Que noite. Não tenho palavras para descrever o quanto “Jagged Little Pill” foi importante para minha formação como MULHER.

Obrigada Alanis. Te amo ❤

Entre cantoras que fazem música pra ex, eu prefiro a potência e a raiva de uma “You Oughta Know” do que a adultescência de artista cuja carreira monotemática só se baseia nisso: música pra omi. Fica a dica. 😉

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Uma pequena história, pra encerrar

A maioria dos presentes no show da Alanis era de mulheres, na faixa dos 35+, óbvio.

Alguns poucos homens, a maioria acompanhando mulheres. Na saída, uma moça do meu lado começou a comentar, empolgada, momentos do show que tinha acabado de assistir e o cara que estava com ela a interrompeu começando a cantar gritos de guerra de torcida de futebol (não identifiquei o time, muito provável que tenha sido Palmeiras, já que estávamos no Allianz Parque).

A mina ficou quieta e visivelmente chateada… O cara continuou a cantar e aí nos afastamos…

Mas é sobre isso: até quando a mulher tá feliz por algo que pode ser só DELA, o cara vem e sequestra esse momento, transformando em algo sobre ele e os gostos DELE.

Vontade de chegar nela e falar: “amiga, escuta todo esse disco da Alanis de novo e repensa sua vida”.



Em tempo, uma nota dos editores aqui do Gibizilla: a gente resolveu publicar algo a respeito do show porque achamos que era o tipo de matéria que fazia sentido para o que queremos construir em termos de cobertura de cultura pop. Mesmo que tenhamos sido total e completamente ignorados tanto pela assessoria de imprensa do evento quanto pela própria Live Nation. Nem para receber um “não”. Simples e total silêncio. Mas OK. Um passo de cada vez. Ajuda a gente a crescer que, em breve, esta galera não vai poder nem fingir que não existimos. Seguimos juntos? Começa fazendo suas compras da Amazon por ESTE link que já vai ser um primeiro passo bem importante. <3