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O melhor pedaço do Universo DC no canal CW está de volta

Sexta temporada de Legends of Tomorrow estreou esta semana nos EUA, misturando alienígenas com a sua dose semanal de galhofa e viagem no tempo

Por THIAGO CARDIM

Antes de rigorosamente qualquer coisa, deixa eu fazer uma breve introdução para explicar que, SIM, este site é absolutamente a favor das séries baseadas nos personagens da DC Comics que o canal CW exibe lá fora – o chamado #Arrowverse.

Sim, é mesmo um novelão com roupas de couro coloridas.
Sim, tem um lado bastante formulaico, uma pegada rocambolesca, meio brega até.
E sim, os efeitos especiais poderiam se beneficiar de um orçamento mais substancial.

Ainda assim, vos digo que NADA disso me importa.

Porque eu quero MESMO é ver este monte de folhetim com super-herói. Porque super-heróis são sim, goste você de admitir ou não, uma parada BEM brega. E tá tudo bem.

Mas, ainda assim, eu TAMBÉM defendo que muitas vezes o #Arrowverse entende MUITO melhor os heróis da DC e mesmo o próprio conceito de vigilantes mascarados dos gibis do que o #Snyderverse dos cinemas, com seu orçamento multimilionário. Os heróis do CW sabem falar de amor, de sacrifício, de esperança. Os heróis do CW sabem sorrir e inspirar. Os heróis do CW salvam vidas. E os heróis do CW são abertamente diversos, sem medo dos gritos da turma reaça, colocando personagens negros, árabes, latinos, gays, lésbicas, bissexuais, trans, todos sob os holofotes DE VERDADE. Então, azar o seu, eu gosto do #Arrowverse e PRONTO.

Dito isso…

Comecei a ver as séries do CW, claro, por conta de Arrow – afinal, eu amo o Arqueiro Verde dos gibis, conforme você bem deveria saber ao acessar o Gibizilla.  E, no final, acabei acompanhando rigorosamente todas as produções da trupe de Greg Berlanti, Marc Guggenheim e cia limitada. E posso dizer, sem medo de ser feliz, que a série deste universo compartilhado da qual eu mais gosto atualmente (na real, há pelo menos TRÊS anos), é justamente o patinho feio. Tamos falando de Legends of Tomorrow.

Pois então, sou mesmo um pregador da palavra de Legends of Tomorrow e acho bom vocês se acostumarem com isso.

Abraçando a boa e velha galhofa

Quando os poderosos chefões do #Arrowverse decidiram fazer uma série com um supergrupo formado pelos mais interessantes coadjuvantes a dar as caras até aquele momento em Arrow e Flash, a iniciativa foi de fato ambiciosa. A começar pelo nome: LEGENDS.

Os caras, conforme o texto de abertura falava com pompa e circunstância, seriam mais do que heróis, seriam LENDAS. Isso não é pouco. Definitivamente, eles tavam mirando na honrosa tradição de grupos de supers da DC. Mas o mais engraçado é que eles miraram em uma Liga da Justiça e fracassaram miseravelmente. E só acertaram mesmo quando resolveram mirar em OUTRA Liga da Justiça.

Na temporada inaugural, os integrantes das Lendas do Amanhã queriam ser ÉPICOS, guerreiros icônicos corrigindo imperfeições temporais para salvar o mundo semanalmente, mas se perderam no meio do caminho com alguns episódios mequetrefes que pareciam se esquecer completamente da trama principal com o vilão Vandal Savage. A escorregada na bosta do meio do caminho virou um verdadeiro mergulho de estrume em uma segunda temporada que, apesar da ideia simpática da Legion of Doom com seus vilões incríveis e carismáticos, tentou ser mais dramática do que deveria e acabou ficando pau a pau com a choradeira do casal Barry-Iris em The Flash. Isso sem falar nas intrincadas teorias sobre viagem no tempo que, mesmo amparadas pela pseudo-ciência super-heroística, se entrelaçavam e enrolavam de um jeito que não convencia ninguém.

Em 80% do ano dois, eu assistia aos episódios pensando “caralho, o que eu estou fazendo com a minha vida, por que estou perdendo tempo com isso?”. Só que tinha ali uns 20% que, hum, mostravam um caminho interessante. O ápice foi a maravilhosa história na qual eles viajaram para os anos 1970, com o objetivo de garantir que um jovem estudante de cinema chamado George Lucas continuasse sua carreira sem medo. Porque, afinal, foi graças a Star Wars que Ray, aka Átomo, virou cientista, assim como foi graças a Indiana Jones que Nathan Heywood se tornou arqueólogo. Percebeu o impasse?

Isso aí. O clima era este. Sabe do que estou falando? Da Liga da Justiça Internacional. Danem-se as teorias sobre deslocamento temporal. Foca na piração, nas interações entre os personagens, nos diálogos na sala de comando. É mais isso até do que cenas de ação, do que uniformes, do que efeitos especiais. É menos Rip Hunter e mais Ray e Nate (que viraram o equivalente à dupla Besouro Azul e Gladiador Dourado).

O que parecia ser um exagero do tipo “ai, não, jura que eles fizeram isso?” ao final da temporada de número 2, aquela coisa dos dinossauros percorrendo uma Los Angeles que tinha até o Big Ben na paisagem urbana, durou só cinco minutos no começo da MARAVILHOSA terceira temporada, promovendo uma bem-vinda correção de rota.

Não é a leveza do Flash (ou, pelo menos, aquela que a gente tava esperando que ele voltasse a ter). Não é a nobreza cheia de significado da Supergirl ou a transformação do Arqueiro Verde em sua jornada do herói. É outra coisa. É simplesmente… bom humor. Sim, sim, já tamos aqui esperando vocês dizerem “putz, agora cêis querem que tudo seja risadinha, tudo seja Marvel”. Nem de longe, meu velho. Mas que este é um canto que ainda não tinha sido plenamente explorado na telinha do CW, ainda que suas séries sejam nitidamente mais ILUMINADAS do que o atual cenário da DC nos cinemas.

É quase uma sátira. O #Arrowverse apontando pros seus próprios exageros e gargalhando. O que é genial. E não tem NADA de errado nisso.

É hora de deixar a zoeira tomar conta. É hora de ser o engraçadinho da turma, de perder o medo de rir de si mesmo, de se sacanear. É hora de abraçar a galhofa, beijá-la na boca e casar com ela, fazendo juras de amor eterno.

Ah, estas lendas lendárias…

Basicamente, as Lendas são Lendas apenas no nome. Eles são, isso sim, um bando de perdedores que costumam causar uma puta zona na linha do tempo e deveriam ser afastados da função, para deixarem os verdadeiros profissionais trabalharem. Sabe o que os heróis DE VERDADE pensavam da Liga da Justiça Internacional conduzida por Maxwell Lord nas HQs, aquela Liga humorística, a chamada “Liguinha”? Bem por aí.

Temos aí um bureau internacional ultraespecializado em viagens no tempo, tentando manter tudo sob controle. E temos uma nave cheia de malucos com problemas graves de autocontrole se metendo em missões que envolvem disrupções temporais, tipo um Julio César saindo de Roma e indo parar na Aruba dos dias de hoje.

O resultado são episódios que viram as figuras histórias do avesso, com um monte de referências pop maravilhosas e sem vergonha nenhuma na cara, com altas doses de humor e até mesmo uma metalinguagem divertida que sacaneia as outras séries deste universo, suas principais manchetes, seus crossovers, enfim.

A nova temporada começou!

No episódio de estreia da atual temporada, a sexta, nossa turma está na Londres de 1977, berço do punk, ainda de ressaca depois da celebração da vitória do final da trama anterior. E demoram até perceber que a capitã da nave Waverider, Sara Lance (a Canário Branco, irmã da Canário Negro), foi abduzida e levada por alienígenas. A única testemunha, que pode ajudá-los a entender o que aconteceu, é um jovem cantor chamado… David Bowie. SIM. ISSO AÍ. ELE MESMO. Sacou o ponto?

Um episódio no qual o mago sacana John Constantine conhece David Bowie não tem COMO ser ruim.

No fim, resumidamente e sem entregar muitos detalhes para quem também acompanha as Lendas, Sara está presa numa nave com o Gary e, na tentativa de se libertar, acaba soltando um monte de diferentes espécimes alienígenas capturados ao longo da linha temporal. Portanto, já sabemos quais serão as missões desta turma, que terá que detectar onde diabos foram parar estes ETs e ir capturá-los antes que causem (mais) distorções na história como a conhecemos. Como isso vai levá-los ao prometido episódio animado que será praticamente uma história de princesa Disney, maluco, não faço a mais remota ideia.

Mas quem é mesmo o vilão da atual temporada? CARA, ISSO POUCO IMPORTA, NA VERDADE.

Ah, sim, tem o Gary, que mencionei ali em cima. Não te contei quem é o Gary. O coadjuvante lindamente interpretado por Adam Tsekhman e que ganhou tamanho espaço a ponto de roubar a cena sempre que aparece. Um sujeitinho assustado, desengonçado, um tanto grudento, que tem a melhor das boas intenções mas que sempre acaba cagando tudo em que toca a mão. Um camarada que era assistente do bureau temporal e depois virou sidekick místico de Constantine. Um amigão que perdeu o mamilo numa situação SURREAL envolvendo um unicórnio.

E um personagem cujo maior segredo a gente descobre assim, PÁ-PUM, à queima-roupa, logo no primeiro episódio desta temporada. E, caraca, como faz sentido.

Gary é um cara que é, no fim das contas, o melhor resumo possível do que é Legends of Tomorrow.

Pra quem quiser saber mais sobre Legends of Tomorrow, deixo abaixo DOIS vídeos dos quais participei dentro da série Domingo Heroico, do Warner Channel Brasil. O primeiro falando sobre a série em si e o segundo fazendo uma exaltação ao Beebo – um bicho de pelúcia azul que virou piada recorrente dentro da série e que agora simplesmente não pode faltar como participação especial em pelo menos um episódio que seja de Legends of Tomorrow.  

Enjoy the ride!!!!!!!!!