Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

Direto da Fábrica de Heróis, um card game 100% nacional

Inspirados e homenageando os clássicos justiceiros uniformizados da Marvel e da DC, os personagens que eram estrelas de um aplicativo e viraram RPG agora se tornaram protagonistas de um card game brasileiro

Por THIAGO CARDIM


Quem lê gibis de hominhos já tem um certo tempo não apenas está acostumado aos universos compartilhados de uma Marvel ou DC da vida como também, vamos lá, em algum momento da vida já resolveu criar o SEU próprio mundinho de heróis de capa (e às vezes sem elas). Mesmo sem saber desenhar direito, até. Eu mesmo criei, lá por volta dos meus 15 anos de idade, uma verdadeira saga interconectada envolvendo mutantes, criaturas sobrenaturais, alienígenas, viajantes do tempo. Me achava o Stan Lee caiçara.

Nenhum dos personagens era lá muito original (apesar de eu desenhar relativamente OK na época) mas, pô: quem nunca?

Foi pensando um pouco nisso que surgiu o aplicativo Fábrica de Heróis – que, na mesma vibe daqueles apps de criação de avatares que são parte da história da internet, te permite escolher diferentes combinações de corpos, roupas, cabelos, armamentos, poderes e afins para criar o SEU super-herói particular.

Só que, obviamente, a turma que criou o aplicativo TAMBÉM cresceu lendo gibis de bonecos fantasiados, exatamente como eu e você. “Entre os anos de 2008 e 2009, na antiga comunidade do Fábrica de Heróis no Orkut, surgiu a ideia de um RPG baseado em texto usando os personagens que fazíamos pelo aplicativo, o qual chamamos de FHverso”, explica Edu Reis, um dos criadores do Fábrica. “Era um jogo em que diversos heróis iriam patrulhar a cidade fictícia de Nova Capital e cumprir missões que iam desde resgatar gatinhos em árvores até uma saga inteira baseada no vilão Hades, que havia sitiado a cidade com sua corporação Cerberus. Desde então, já jogamos 7 ou 8 versões nesse mesmo cenário, criando diversos heróis e vilões ao longo desses anos”.

Acontece que este era um universo tão grande e rico, criado em colaboração com diversos criadores de personagens e jogadores do FHverso, que surgiu a vontade de expandir a marca e o cenário para o público. “E encontramos no card game o melhor formato para conseguir fazer o sonho virar realidade”. Pronto. Nascia Fábrica de Heróis – O Card Game, novidade financiada com sucesso via Catarse e agora disponível para todo mundo que curte gibis, séries e filmes de bonequinhos.

Antes, um pouco de contexto

Pra você entender a ambientação do jogo, é importante explicar que o tal do FHVerso se passa em uma realidade alternativa com algumas cidades, estados e até países diferentes do nosso mundo. Neste lugar, a influência dos super seres gerou uma realidade fantástica onde coisas impossíveis acontecem. Eles explicam, no site, que “relatos de super feitos e acontecimentos são espalhados por toda a história humana, mas de fato comprovado o universo destes heróis diverge da nossa realidade a partir do final do século XX, com o surgimento dos primeiros vigilantes. A presença dos super seres afeta o mundo como um todo, desde decisões políticas até os achados da ciência moderna”.

E isso inclui o Brasil – um país no qual o vigilantismo surge no início dos anos 1950, perdurando suas aventuras durante os próximos anos até o surgimento da Ditadura Militar, em 1964. O incentivo maciço na busca de super-humanos faz os militares criarem uma subdivisão especial em conjunto com uma organização internacional conhecida como Cerberus, especializada na caça e estudo destes indivíduos. Mas, nos anos 1980, um grupo rebelde de super seres denominado Bem Feitores invade uma instalação secreta da Cerberus nos arredores de Brasília, capital do Brasil na época. Acontece um incidente que devasta a capital. E aí…

“Nova Capital agora é a capital federal do Brasil, sede do governo do Espírito Santo e principal centro financeiro, corporativo e mercantil da América do Sul”, contam. “Nos últimos 30 anos, os super-heróis foram aplaudidos e odiados, transformados de celebridades a criminosos. Geraram tendências na moda, cultura, política e até religião. Nunca estiveram tão presentes na sociedade”.

Agora, falando sobre o jogo…

Edu explica que a grande maioria dos personagens foram criados durante as diversas versões do FHverso, cedidos pelos jogadores, e alguns personagens foram criados diretamente para o card game pela Equipe FH, o time diretamente responsável pelo desenvolvimento do jogo. “Mas refizemos o visual de todos os personagens através do aplicativo para servir como base das ilustrações finais das cartas”.

A base do jogo é um modo competitivo para ser jogado de 2 a 6 jogadores, em que cada jogador irá montar uma equipe de heróis para cumprir missões e enfrentar vilões, que rendem pontos aos jogadores. “Os jogadores vão poder usar as habilidades dos heróis para ajudar a cumprir as missões, mas poderão também usar para atrapalhar os adversários e impedir que eles tenham sucesso em suas missões”, diz. Ele conta que estão desenvolvendo também outros modos de jogo, como o modo solo, o modo cooperativo, um modo para iniciantes e um modo de Time versus Time, cada um com suas particularidades, mas mantendo a mesma premissa.

“Nossa maior referência durante o desenvolvimento do jogo foi o Munchkin, por ser um jogo casual de rápida aprendizagem e que tem um ritmo dinâmico e até meio caótico”, indica. A forma como ele consegue explorar diferentes raças, equipamentos e inimigos mostrou aos desenvolvedores a possibilidade de explorar seu próprio cenário e, a partir disso, eles foram evoluindo o jogo em cima dessa premissa. “Afinal, o jogo não é só sobre os personagens e sim sobre a cidade em que estão inseridos e tudo o que acontece por ali”.

Ele diz que não é necessário nenhum conhecimento prévio sobre o Fábrica ou mesmo qualquer universo de super-heróis – mas para quem quiser entender um pouco sobre o FHverso, todas as histórias de origem dos personagens estão no site do jogo, assim como informações complementares.

Mas eles acham que a atual explosão de um fenômeno como Marvel Snap, o aplicativo oficial da Casa das Ideias que é uma espécie de card game só que online, poderia ajudar a trazer mais gente pra este universo do card game genuinamente nacional? “Esperamos que sim”, aposta ele. “São mecânicas bem diferentes, mas a temática de super-heróis está presente. Não temos o diferencial de ter um universo estabelecido em quadrinhos, filmes e séries famosos ao redor do mundo, mas caso a temática cresça dentro do universo de card games, estaríamos bem na crista da onda”.

Pra encerrar, por falar em “universo estabelecido”, se eles pudessem escolher UM super-herói da Marvel ou da DC pra entrar no jogo da Fábrica de Heróis, qual seria? Edu começa dizendo que um bom conhecedor dos super-heróis das duas editoras consegue reconhecer facilmente as homenagens e referências que eles prestam aos super-heróis de ambas. “Então, é uma tarefa difícil escolher apenas um deles para fazer uma visita ao nosso universo e ao nosso jogo. Mas se pudéssemos fazer esse crossover, com certeza escolheríamos o Galactus”. Eita caray!

A explicação: “Por enquanto, não temos um vilão extraterrestre com o mesmo nível de poder, então seria bacana ter um personagem como ele no jogo”.

Para quem se interessou, dá comprar Fábrica de Heróis – O Card Game neste link aqui, ó.