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The Bear: 4ª temporada é terapia na cozinha

Quarta temporada da série chega chacoalhando (da melhor maneira possível) o universo do chef Carmy – e de todo mundo ao seu redor

Por THIAGO CARDIM

Acho que já comentei por aqui, assim como em alguns dos meus antigos textos lá no JUDÃO.com.br, mas para além de jornalista, sou também um aspirante a escritor/roteirista. Estou retomando o agora eterno processo de finalizar meu livro de contos (uma hora vai…) e começo a flertar com a ideia de escrever uma HQ. “Ah, vamos fazer um gibi de heróis/ficção científica/fantasia”, já me propuseram alguns amigos e conhecidos. E minha resposta é sempre NÃO.

Porque eu adoro ler heróis/ficção científica/fantasia e derivados. Mas, na hora de escrever, sempre prefiro escrever histórias de PESSOAS. Gente comum. Gente como eu e você, sem poderes ou magias, nada de elfos, androides ou alienígenas, mas sim pessoas com boletos a pagar falando de seus perrengues, de suas frustrações, de seus relacionamentos complicados, de seus sonhos e fracassos. E por isso mesmo me encanto quando vejo alguém escrevendo com maestria um tipo de trama tão… humana.

Como é no caso da série The Bear, aliás.

Preciso repetir algo que muitas vezes não fica claro para quem assiste séries como esta: The Bear não é, nem de longe, uma série sobre culinária. Sobre os sabores da gastronomia, sobre como gerir a equipe de um restaurante. Nada disso. Tudo isso é pano de fundo. The Bear é uma série sobre dramas humanos, em sua mais plena essência. E estes dramas ganham novos e inesperados desdobramentos na quarta temporada, cujos 10 episódios acabam de chegar ao Disney+.

Na quarta temporada, a palavra-chave é AUTOCONHECIMENTO

Ao longo dos episódios anteriores, tivemos Carmy (Jeremy Allen White) percebendo que podia exigir mais. De si mesmo e do seu time. Um Carmy percebendo que aquele lugar e aquelas pessoas tinham potencial pra chegar aonde ele mesmo já tinha chegado em certo momento na vida.

Mas, aos poucos, Carmy foi se tornando justamente aquilo que ele mais odiava. Na verdade, foi se tornando uma das pessoas que ele mais odiou na vida. Foi se tornando o antigo chef para o qual trabalhou. O babaca, o escroto, o arrombado. O homem que ele sempre considerou como um dos principais responsáveis por suas próprias frustrações e fracassos.

Mas… será mesmo? O confronto entre os dois, ao final da temporada 3, cheio de tensão, mostra que Carmy fez as próprias escolhas. E agora teria que lidar com o peso e a responsabilidade de cada uma delas.

Nesta nova temporada, o que temos são 10 episódios muitíssimo bem amarrados, com um nível de tensão menor do que nas temporadas anteriores – mas carregadíssimos em muito mais emoção. Porque Carmy começa a perceber que está se tornando alguém que NUNCA quis ser. E que está, inclusive, se afastando daquilo que deveria ser a sua real paixão (em certo momento da trama, aliás, ele se encontra numa cozinha diferente, executando algo mais simples e com um objetivo muito diferente, o que o leva a perceber que algo de sua paixão se perdeu no meio do caminho).

Colocado sob pressão pelo Tio Jimmy (Oliver Platt), que precisa ver seu investimento minimamente começar a dar resultado ao invés de apenas prejuízo, Carmy passa a pisar no freio. A desafiar suas próprias convicções – sobre o menu, sobre sua mãe, sobre a “namorada” (?) Claire (Molly Gordon). Ele passa a fazer terapia em grupo. E logo fica claro, enfim, que The Bear, o restaurante, com todos os seus defeitos e qualidades, não é o jovem Berzatto. E nem é SOBRE ele. Mas sim sobre um grupo de pessoas. Uma família. Sobre cada um deles.

Uma família bagunçada e disfuncional que estrela um episódio enorme, com 1h de duração, exatamente como aquele já icônico do violento jantar em flashback -mas que aqui, retrata uma festa de casamento absolutamente solar, cheia de loucura e também de amor, que vira as convicções de Carmy (que nem queria estar ali, pra começar) de ponta-cabeça.  

Na verdade, esta quarta temporada de The Bear também coloca outros dois personagens em posição de questionarem seus papéis no restaurante e no mundo: enquanto Sydney (Ayo Edebiri) vive uma indecisão eterna pela proposta que recebeu de um novo empreendimento e busca mais espaço para suas ideias entre os ursos, o primo Richie (Ebon Moss-Bachrach, o Coisa do novo filme do Quarteto Fantástico e, de longe, meu personagem favorito aqui) luta contra os ciúmes do padrasto de sua filha ao mesmo tempo em que busca ganhar mais relevância como incentivador do time.

E no episódio que encerra a temporada, os três (Carmy, Sidney e Richie) protagonizam uma cena 100% focada em desenvolvimento de personagem, simples e direta ao ponto, com diálogos soando absolutamente verdadeiros e uma reviravolta na conexão tempestuosa entre os dois primos que nos carrega direto para a primeiríssima temporada, agora com muito mais camadas de significado.

No fim, todo mundo tem lá seus problemas. Eles e nós. Resta saber como lidamos com eles – e sem perder a real essência de quem somos.

E como diria a Sugar: tá tudo bem deixar de amar.

Tá bom, mas eu NUNCA vi The Bear. Do que se trata?

Eis um resumo que serve de ponto de partida pra quem tá chegando AGORA: The Bear é uma série de comédia dramática que acompanha Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White), um jovem chef premiado que retorna a Chicago para administrar a lanchonete de sua família após o suicídio de seu irmão mais velho. Ao assumir o comando do “The Beef”, Carmy enfrenta uma cozinha caótica, dívidas acumuladas e uma equipe desorganizada. Determinado a transformar o estabelecimento em um restaurante de alto padrão, ele lida com os desafios do luto, da pressão profissional e das complexas dinâmicas familiares.



Principais Personagens e Elenco de Destaque

Carmen “Carmy” Berzatto (Jeremy Allen White): Chef talentoso e protagonista da série, Carmy busca redenção pessoal e profissional ao reformular o restaurante da família.

Sydney Adamu (Ayo Edebiri): Ambiciosa sous-chef que se junta a Carmy na missão de elevar o padrão do restaurante, enfrentando seus próprios desafios e inseguranças.

Richard “Richie” Jerimovich (Ebon Moss-Bachrach): “Primo” de Carmy, inicialmente resistente às mudanças, mas que evolui ao longo da série, assumindo responsabilidades no salão.

Marcus Brooks (Lionel Boyce): Confeiteiro dedicado que busca aprimorar suas habilidades culinárias, enfrentando perdas pessoais e profissionais.

Tina Marrero (Liza Colón-Zayas): Cozinheira experiente que inicialmente resiste às mudanças, mas eventualmente abraça o novo padrão de excelência.

Natalie “Sugar” Berzatto (Abby Elliott): Irmã de Carmy, atua como gerente administrativa, equilibrando os desafios do restaurante com sua vida pessoal.

Equipe Criativa e Produção

Criador e Showrunner: Christopher Storer, conhecido por seu trabalho em Eighth Grade e Ramy.

Co-showrunner: Joanna Calo, com créditos em BoJack Horseman, Hacks e The Baby-Sitters Club.

Produtores Executivos: Christopher Storer, Joanna Calo, Matty Matheson, Tyson Bidner, Hiro Murai, Josh Senior e Nate Matteson.

Roteiristas Notáveis: Além de Storer e Calo, a equipe inclui Karen Joseph Adcock, Sofya Levitsky-Weitz, Catherine Schetina, entre outros.

Diretores Convidados: Ayo Edebiri, Ramy Youssef, Janicza Bravo e Duccio Fabbri contribuíram com episódios ao longo das temporadas.



Resumo das Temporadas Anteriores

Temporada 1 (2022)
Carmy retorna a Chicago para assumir o “The Beef” após a morte de seu irmão. Enfrenta resistência da equipe, desafios financeiros e pessoais, enquanto tenta implementar mudanças significativas no restaurante.

Temporada 2 (2023)
A equipe trabalha na transformação do “The Beef” em “The Bear”, um restaurante de alta gastronomia. Carmy enfrenta pressões pessoais e profissionais, incluindo um relacionamento com Claire e tensões com a equipe.

Temporada 3 (2024)
Com “The Bear” em funcionamento, Carmy impõe padrões rigorosos, causando atritos internos. A temporada explora o impacto dessas decisões nas relações interpessoais e na sustentabilidade do restaurante.

Cinco Razões para Assistir The Bear

1) Retrato Autêntico da Indústria Culinária: A série oferece uma visão realista e intensa do funcionamento interno de uma cozinha profissional.

2) Desenvolvimento Profundo de Personagens: Cada personagem apresenta uma jornada única, explorando temas como luto, ambição e redenção.

3) Excelência Técnica: Roteiro, direção e atuações premiadas que elevam a narrativa a um patamar de excelência televisiva.

4) Participações Especiais Impactantes: Aparições de atores renomados como Jamie Lee Curtis, Bob Odenkirk e Sarah Paulson adicionam profundidade à trama. Nesta temporada, por exemplo, Brie Larson chega em um papel inesperadamente hilariante.

5) Relevância Temática: Aborda questões contemporâneas como saúde mental, dinâmica familiar e os desafios do empreendedorismo (aquele de verdade mesmo, não o dos livros de autoajuda e discursos de coaches).

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