Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

O meu, o seu, o NOSSO Pedro

Verdadeiro ícone musical do hoje finado JUDÃO.com.br, este simpático egresso do interior de Santa Catarina continua fazendo uma música folk delícia que, na real, TODO MUNDO deveria estar ouvindo

Por THIAGO CARDIM

Tal qual uma Marvel ou uma DC Comics, na fase áurea do nosso eternamente saudoso JUDÃO.com.br e seu podcast oficial, o Asterisco, dois elementos essenciais da cobertura de cultura pop no Brasil, tínhamos alguns elementos canônicos. E um deles era o #nossopedro. Assim mesmo, com hashtag e tudo.

O Pedro Vulpe, natural de Mafra, interior de Santa Catarina, que veio nos visitar pela primeira vez no estúdio lá em agosto de 2016. Com o violão em mãos, além de discutir gibis e a porra toda com a gente – já que o cara também é chegado nestas coisas – ele ainda apresentou canções de seu EP da época, o ótimo Zam, e ainda fez uma versão MARAVILHOSA de Dick in a Box, o clássico absoluto do Saturday Night Live.

Rapidamente, Pedro se tornaria o NOSSO Pedro porque, além de participar de alguns outros episódios do Asterisco, ele ainda faria a composição da canção de abertura do programa, marcando para sempre aquela que seria a nossa fase final. Pedro virou um grande amigo, diga-se. E um amigo que, não se pode negar, é talentoso PRA CARAMBA e anda numa fase incrível da carreira, apesar de tudo que tá rolando no mundo.

“A música veio primeiramente como uma atividade sugerida para me desinibir”, explica ele, neste papo com o Gibizilla, contando um pouco de sua história. “Fui uma criança quieta, porém sempre gostei de música! Brincava muito com o rádio ligado e gravava K7s com as favoritas que passavam pela estação”. Se você é XÓVEM e não sabe o que é uma fita-cassete, ou joga no Google ou então espera que dia destes o tio conta procê qual é, hahahahaha.

De Mafra pro mundo

Pedro começou a se apresentar na noite com 14 anos, tocando sozinho em intervalos de bandas mais experientes nos bares locais. “No mesmo ano, teve o convite para ser o vocalista da primeira banda e daí pra frente foram várias. A última, Black River Birds, lançou um EP autoral em 2012 e um single dois anos depois. Todas as faixas foram compostas por mim”. Mas aí viria a primeira viagem que começaria a mudar tudo. “Em 2015, fui para Dublin (capital da Irlanda) para ser músico de rua e tocar em palcos abertos. Foi a minha melhor experiência musical, me fazendo viver para/de/pela música”.

Por lá, ele compôs algumas faixas e chegou a gravar uma session no Coffee Hill Studios. Quando voltou, quis lançar o que escreveu como um EP solo. “No ano seguinte, lancei o Zam, com músicas em português e inglês, gravado na sala que costumava ensaiar com a banda e tocando quase todos os instrumentos”. Ele fez o lançamento em maio, na cidade de São Paulo, cidade para a qual se mudou em definitivo no final daquele ano. Teve amor, teve filhota, teve um mundo totalmente novo.

Aí, em 2018, ele lançou o single Olhos Do Tempo, que acabou fazendo parte do EP mais recente, Move, lançado no final de 2019. E eis que então o moço assinou com a Warner Music Brasil, que relançou seu catálogo em 2020. Opa! Sim, sim, #nossopedro agora tá numa gravadora grandona, olha só!

“O clipe da música Trouble foi ao ar e ganhou certa notoriedade na cena independente – ficou entre os 3 melhores clipes independentes de 2019 no saudoso Udigrúdi, programa da PlayTV”, conta. “Um amigo da minha esposa encaminhou o vídeo para o Sérgio Martins, um dos maiores críticos musicais do país, e ele, quase que numa espécie de telefone-sem-fio, mostrou para o Sérgio Afonso, presidente da Warner Music Brasil”. Eis que eles trocaram uma ideia, Pedro assinou e o resto é história. “Apesar de possibilitar um alcance muito maior, não sinto qualquer pressão ou mudança no meu processo criativo por conta disso. Tenho muita autonomia e o time com quem trabalho me deixa muito à vontade”.

Um single mutante

Como falamos especificamente sobre Trouble, acho que vale aqui um capítulo à parte – porque esta é uma canção que o Pedro teria escrito para o filme Logan caso tivesse a chance. “Ela veio como um exercício criativo!”, conta. “Logo depois de assistir ao filme, eu pensei ‘e se o James Mangold (diretor) me ligasse pedindo uma música pro filme?’. Parece bobo, mas me ajuda a não escrever a mesma música toda vez que quero compor”. A ideia é de fato MUITO mais legal.

“Confesso que é um medo meu ter uma discografia pautada na mesma canção folk tristonha em todos os lançamentos”, brinca.

E se este foi o embrião da música, o músico acredita que ela realmente se encontrou quando surgiu o clipe. “Nem no meu melhor sonho eu imaginei que o Ricardo (Kump, o diretor) conseguiria traduzir ela tão bem numa outra linguagem”.

Faz favor de dar o play aí pra fortalecer o chapa.

Tá ouvindo este saxofone?

Já que estamos falando de adaptação de gibi, meio que foi uma delas que gerou um outro incrível momento na vida artística recente do Pedro. “Foi logo depois de assistir ao quinto episódio de Watchmen, uma das melhores coisas que vi recentemente”. Ele está falando, no caso, de Little Fear of Lightning, que usa quatro versões da música Careless Whisper para contar sobre o trauma do detetive Wade Tillman, aka Looking Glass.

“Sou muito fã de George Michael e Watchmen foi um dos meus primeiros contatos com quadrinhos de temáticas mais densas, adoro o gibi”, revela. “Fui ao estúdio no dia seguinte e comecei a trabalhar na minha versão”.

Não, a versão dele não tem saxofone (desculpa, Deadpool), mas Pedro afirma que, além de unir o útil ao agradável, conseguiu usar elementos de música eletrônica nesse arranjo sem se descaracterizar. “Deixar uma canção tão icônica com a minha cara foi um processo muito gostoso”.

No fim, quadrinhos e afins impactam na vida do Pedro como uma forma de encontrar outras histórias, outras narrativas, lugares e acontecimentos que não são os dele e também no paralelo que o músico acaba fazendo com o que está acontecendo com ele e com o mundo ao seu redor.

“Assim como a música, acredito que uma das funções de outras mídias seja dialogar, retratar e expor a realidade contemporânea. Mais do que isso, o que todos lemos, assistimos e ouvimos é capaz de inspirar. Isso é poderoso”. Concordo MUITO. E ele completa: “É um processo de crescimento que cruza com a identificação e empatia. Precisamos sempre de mais histórias e histórias diferentes”.

Taca aí mais um play, então.

E sobre o futuro, Pedro?

Bom, ter vindo pra cidade de São Paulo, claro, antes mesmo de fechar com a Warner, fez com que o Pedro pudesse se sentir capaz de atingir mais pessoas do que se ainda vivesse no interior. “A capital contempla a música autoral de uma maneira mais ampla e efetiva”. E ainda teve o cantor e compositor virando pai, né, o que muda tudo na sua perspectiva de vida. “Tive contato com um mundo novo dentro e fora de casa e isso afeta minha música. A mudança me fez crescer o olhar para cantos que não enxergava antes disso. Gosto de pensar que hoje imprimo isso nas minhas composições!”.

Mas chegou 2020 e, com ele, veio a pandemia. Aí fodeu. A vida, claro, ficou parada.

“O ano em si me foi bem quieto, com a exceção do lançamento da minha versão de Careless Whisper. O foco de 2020 foi em novas composições, tanto para esfriar a cabeça quanto para ter um material novo assim que voltar aos palcos”.

Mas, depois do lançamento de Move, qual é o próximo passo? Teremos um disco completo a caminho? Ou o mundo é dos singles? “Vem single novo no comecinho de 2021 e já estou compondo e gravando meu próximo trabalho”, diz. “Com dois EPs, vejo que é natural o próximo lançamento ser um disco completo. É uma vontade minha, mas posso trabalhar canções dele separadamente até lá”.

Tamos aqui aguardando ansiosamente. Enquanto isso, basta procurar “Pedro Vulpe” na sua plataforma de música digital favorita para curtir um pouco mais do trampo dele.  Recomendadíssimo pelo Gibizilla porque, afinal, pra quem passou pelo JUDÃO, ele jamais vai deixar de ser o #nossopedro. <3