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Nia DaCosta acerta MUITO em As Marvels

Filme é enxuto, trazendo ação, humor, ternura e entregando fanservice na medida certa para quem estava com saudades de cenas pós-créditos que valessem a pena na Marvel

Por GABRIELA FRANCO

Depois de um ano esquisito, cheio de paralisações de projetos, greves (muito necessárias, aliás) de roteiristas & atores e lançamentos flopados (oi, Flash), eis que um filme que junta três heroínas da Marvel vem como lançamento derradeiro do MCU em 2023.

Chegou sem fazer alarde, afinal o campo do entretenimento estava bem instável, então tivemos pouco marketing durante esses últimos meses sobre o filme. Sinceramente, eu não estava muito confiante de que ele seria bom, nem de que ele seria realmente lançado. 

Mas foi. E agora As Marvels chegou oficialmente aos cinemas.

No começo, as heroínas eram sub-representadas…

Tudo começou quando Capitã Marvel, o primeiro filme de uma heroína solo da Casa das Ideias, foi lançado em 2019, dando um pouco mais de tempero para Vingadores: Ultimato (lançado no mesmo ano) – sendo que este último, o grande lançamento-evento Marvel pré-pandemia, também ajudou a heroína a ter um pouco mais de estofo no imaginário dos fãs. Mas, mesmo assim, o lançamento de Capitã Marvel foi CRUELMENTE malhado pela crítica e público: na época, não apenas por questões machistas infundadas que abundam no meio nerd, mas por uma questão estratégica.

A Marvel tentou pegar uma carona muito da atrasada no sucesso estrondoso de Mulher-Maravilha do estúdio concorrente, a DC, que, ainda que tenha demorado a prestigiar a heroína de 80 anos, um dos pilares das histórias em quadrinhos, preenchera temporariamente a ânsia por representatividade que as mulheres tanto esperavam do nicho.

Em comparação, Capitã Marvel saiu perdendo feio. E precisou do empurrãozinho de Ultimato para ver se “colava” no córtex dos fãs como sendo uma das heroínas mais poderosas da franquia.

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Bonde das Marvels

Neste filme atual, Carol Danvers, a Capitã Marvel, divide a tela com mais duas heroínas que roubaram o coração dos fãs em séries da Marvel: Monica “Fóton” Rambeau (Teyona Parris). que apareceu pela primeira vez nas telas justamente no filme da Capitã Marvel como filha de Maria Rambeau, colega de equipe de Carol na aeronáutica, e que foi melhor desenvolvida na excelente série da Feiticeira Escarlate (Wandavision); e a maravilhosamente carismática Kamala Khan (Iman Vellani) a protagonista da série Miss Marvel, ambas as séries disponíveis no Disney +.

Como as três possuem em comum manipulação de poderes cósmicos ligados à luz, ainda que de formas diferentes, isso serviu como fio condutor para juntá-las em uma trama que, no final das contas faz com que as três “troquem” de lugar quando usam seus poderes ao mesmo tempo – e isso acontece mesmo com Carol estando em outra galáxia, Monica em pesquisa na atmosfera terrestre e Kamala vivendo sua vida teen em Nova Jersey (o que acaba desembocando em uma das melhores sequências do filme, aliás).

Daí que elas descobrem o que está causando esse “distúrbio” de trocas e viagens temporais, o que acaba forçando-as a se unir para enfrentar a guerreira Kree, Dar-Benn (Zawe Ashton), que quer se vingar de Carol pelos danos que a heroína causou em seu planeta, Hala, transformando-o em um lugar inóspito, inabitável e insustentável. Tudo de alguma forma ligado ao bracelete ancestral que Kamala usa…

A diferença de As Marvels pra outros filmes do gênero é que ele não perde tempo em demonstrações inúteis e egóicas de poder e macheza como acontece com super-heróis hominhos e nem em closes sexistas, ginecológicos e inconvenientes, como em filmes dirigidos por homens.

A diretora Nia DaCosta vai direto ao ponto: e o foco é o relacionamento entre as três. Carol, há muito tempo longe do contato humano e cheia de ressentimento pelas más escolhas que fez como ser humano e como heroína; Monica, magoada com Carol por ela ter escolhido não voltar para a Terra e deixado de passar os últimos anos com ela e sua mãe, Maria, que morreu de câncer; e Kamala, a menina paquistanesa de Nova Jersey que acabou de chegar no bonde, que ainda está tentando lidar com seus poderes e é simplesmente FANÁTICA pela Capitã Marvel, razão pela qual escolheu seu codinome de heroína.

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O filme é DELA

É inegável o fato de que o grande alívio cômico e elo carismático e emocional do filme seja justamente a Miss Marvel de Iman Vellani. Em seu primeiro filme nas telonas, a atriz, que já arrebatou corações na série da jovem heroína, esbanja naturalidade, segurança e desenvoltura. É o mais puro carisma em forma de gente.

É ela quem tira as gargalhadas do público, seja com sua espontaneidade maravilhosa ou na relação com a sua família, digamos, excessivamente participativa. Junte-se a isso Goose, o fofíssimo gato alienígena, e as participações pontuais de Samuel L Jackson como Nick Fury, e temos um filme leve, divertido, cuja trama não é lá MUITO intrincada… Mas gente, não precisa ser! Ainda continua sendo um filme de super-heróis (ou melhor, super-heroínas).

Como sempre digo, e vale também pra essa resenha e para todas as que incluam mulheres: me parece que só aos homens é dado o direito de serem medíocres, não é mesmo?  

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Não é um filme de herói que vai fazer você chorar como fez Guerra Infinita com a desintegração de Homem-Aranha e de tantos outro heróis amados. É uma outra abordagem, uma outra época, com outras heroínas… Uma missão que, ora bolas, se elas não tivessem resolvido, teria esfacelado o tecido da realidade que conhecemos (tem lá um pingo de multiverso na jogada), mas…quem liga, não é mesmo?

São só mulheres salvando o mundo e não sendo reconhecidas. Como acontece todo o dia aqui no mundo real.

De qualquer modo, o filme (com suas singelas 1h45 de duração) arrancou aplausos na pré-estreia que tivemos a chance de conferir.

Don’t believe the hype e vá conferir por si.

Ah: As Marvels tem uma das MELHORES CENAS PÓS-CRÉDITO DA MARVEL. Vale a pena esperar.


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