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Black Kamen Rider: herói ganha seu guia definitivo

Depois de Jaspion e Jiraiya, personagem insetóide que marcou história na finada e saudosa Rede Manchete é a estrela da nova publicação da Editora Mozu, de autoria da dupla Ricardo Cruz e Adriano Almeida

Por THIAGO CARDIM

Se você cresceu nos anos 1980 e 1990, especialmente com a programação da Rede Manchete, é provável que tenha ouvido falar de Jaspion, Jiraiya e Changeman. Mas, para muitos fãs de tokusatsu no Brasil, existe um nome que carrega um peso especial: Black Kamen Rider. Quando Black estreou na Manchete, em abril de 1991, nada menos que 16 séries de heróis japoneses já haviam passado pela programação brasileira desde o estouro da dupla inicial Jaspion e Changeman.

Aqui, cabe um parêntese importante, uma pequena história pessoal: esse garoto aí da foto abaixo sou eu. Ainda na casa dos meus pais, na minha terra natal Santos/SP, tomando Danoninho enquanto fico GRUDADO na televisão. A idade devia ser algo em torno de 11 ou 12 anos. O que estava passando na TV? Rigorosamente o PENÚLTIMO episódio de Black Kamen Rider, de número 50, com o título de “Quem é o Grande Rei?”. Era o início da luta final entre Kamen Rider e seu maior nêmesis, Shadow Moon – um personagem cujo visual eu simplesmente AMAVA.

Digamos que o Shadow Moon virou o meu segundo Darth Vader. 😉

O caso é que, no dia seguinte, ao invés de exibir o último episódio, a Manchete voltou pro primeiríssimo. E começou a exibir tudo de novo. E fez isso algumas muitas vezes até 1994, quando a série enfim saiu do ar (antes da própria emissora seguir o mesmo destino, aliás). No fim, fiquei sem assistir a este episódio final, um menino frustradíssimo, sem exagero, durante quase 30 anos – quando, em plena pandemia, ali por volta de 2021, mergulhado em pequenas nostalgias que aqueciam o coração num mundo em dúvida, tive a chance de ver o dito cujo (mesmo que sem dublagem). E chorei. Porque o Cardim de seus 40 e poucos anos finalmente fechava um ciclo pro Cardim de 12 anos.

A franquia Kamen Rider: um pilar do tokusatsu

Criada em 1971 por Shotaro Ishinomori, um dos maiores nomes do mangá e parceiro do lendário Osamu Tezuka, a franquia Kamen Rider – derivada original do gibi de mesmo nome – faz parte do DNA do tokusatsu japonês. Enquanto os multicoloridos Super Sentai são focados em robôs gigantes e na interação entre equipes (você sabe, aqueles adaptados no Ocidente como Power Rangers), e a linha Metal Heroes trouxe guerreiros com suas reluzentes armaduras metálicas (tipo o Jaspion), Kamen Rider sempre foi sobre heróis solitários, motocicletas icônicas e uma luta pessoal contra organizações malignas.

Estreando em 1987 no Japão, Kamen Rider Black (sim, sim, no Japão o nome Black está no final do título, ao contrário do que acontece aqui) foi um marco. Primeiro, por ter um tom mais sombrio e dramático que seus antecessores. A história acompanha Issamu Minami (no original, Kotaro Minami), um jovem nascido durante um eclipse lunar, raptado e transformado pela seita mutante Gorgom (que atua nas sombras para destruir a civilização humana como a conhecemos) para se tornar um de seus Imperadores Seculares. A ideia seria que ele e o irmão adotivo, Nobuhiko Akizuki, depois da implantação em seus corpos da pedra do poder conhecida como King Stone, lutassem entre si pelo trono do Grande Rei.

Mas graças ao seu pai adotivo, o prof. Soichiro Akizuki, ele acabou escapando do controle antes de ter a memória plenamente apagada. Portanto, o jovem decide usar seus poderes para destruir a organização e impedir que seu “irmão de criação” se torne o governante das trevas, agora transfigurado como o temível Shadow Moon.

É hora de HEEEEEEEEEEEEEEEEEENSHIN! 😀

O seriado combinava narrativa adulta, estética visual mais soturna e um protagonista carismático interpretado por Tetsuo Kurata – além de trazer uma pegada muito mais “filme de terror” do que seus antecessores, com personagens se transformando em aberrações genéticas ao invés de somente vigilantes mascarados de lenço no pescoço.

Produzida pela Toei Company em associação com a Ishinomori Productions, Black Kamen Rider foi exibida originalmente entre 4 de outubro de 1987 até 9 de outubro de 1988 pelos canais japoneses MBS e TBS. No final de outubro de 1988, no entanto, a série ganharia uma continuação imediata, Kamen Rider Black RX, na qual Issamu agora enfrenta o Império Crisis, com a sua King Stone devidamente reabastecida com radiação solar – permitindo que ele assuma inclusive duas formas adicionais, pra vender mais bonequinhos: Robô Rider e Bio Rider.

Kamen Rider Black RX – e sua abertura em português absolutamente chiclete – também foi exibida por aqui na Rede Manchete.

O sucesso no Brasil

No nosso país, Black Kamen Rider chegou em 1991 pela Rede Manchete, conquistando fãs – como eu – instantaneamente. A trama intensa, as motos Patrol Hopper e Lord Sector e a trilha sonora marcante ajudaram a consolidar sua popularidade. Batizado pelos licenciados de “Black Man”, o herói se tornaria aqui no Brasil uma grande linha de brinquedos da Glasslite, comparável à de Jiraiya, além de trilha sonora em LP e fita cassete, fitas VHS, álbum de figurinhas… 

E quadrinhos, né. Porque, sim, da mesma forma que rolou com Jaspion e Changeman, a nova geração de tokusatsu exibida por aqui pela Manchete – Maskman, Cybercops, Spielvan e, claro, o Black Kamen Rider – ganhou suas aventuras num gibi da editora Abril, o “Heróis da TV” (com o mesmo nome do gibi de heróis Marvel de anos antes). E o mais divertido é que se tratava de histórias inéditas, diferentes daquelas exibidas na telinha… e produzidas por quadrinistas brasileiros como Watson Portela e Marcelo Cassaro.

Anos depois, a série ganhou exibição em serviços de streaming e ensaiou uma volta à TV aberta, na Band – mas o bloco dominical dedicado aos tokusatsu clássicos que tomou conta da emissora em 2020 logo se viu sem o Kamen Rider (que, vejam, tinha prometida até a exibição de seu lendário episódio final e tudo mais). A treta se deu por conta de uma disputa envolvendo a renovação dos direitos de dublagem entre a Sato Company e o dublador Élcio Sodré (o mesmo que dubla o Shiryu de Dragão em Os Cavaleiros do Zodíaco), que dava voz ao personagem principal.
Hoje, embora Kamen Rider Black RX esteja disponível no Prime Video, o original Black Kamen Rider tem somente 36 episódios liberados gratuitamente no canal do YouTube da Sato.

Ah, sim: o episódio final, aquele mesmo, acabou sendo eventualmente dublado em português por parte do elenco original. E foi exibido, com toda a pompa e circunstância, em 2023, no Sato Cinema, no Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, no Bairro da Liberdade, em São Paulo.

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Habemus novas versões

Pouca gente sabe, mas Black Kamen Rider também teve uma versão em mangá, escrita e desenhada pelo próprio Shotaro Ishinomori – e publicada no Brasil pela editora NewPop. Muitíssimo diferente da série de TV, o mangá apresenta um visual um pouco mais caricatural e um enredo mais conciso (e com um pouquinho de humor), com foco no drama pessoal de um Kotaro completamente sem memória e um ritmo narrativo mais direto.

Já em 2022, a Toei lançou a espetacular série televisiva Kamen Rider Black Sun, uma reinterpretação adulta e muito mais política do original, para comemorar os 35 anos da série e também os 50 anos da franquia. A série trouxe discussões sobre preconceito, discriminação e manipulação social, além de um visual repaginado, mas mantendo a essência trágica do herói. Esta também está disponível integralmente no Prime Video.

O projeto da Editora Mozu

O Guia Visual Definitivo de Black Kamen Rider segue o padrão de excelência que a Editora Mozu já estabeleceu com suas obras anteriores, como os guias visuais de O Fantástico Jaspion e Jiraiya – O Incrível Ninja.

O livro contará com imagens raras, pôsteres, artes conceituais, curiosidades de bastidores, entrevistas e informações detalhadas sobre personagens, monstros, episódios, veículos e equipamentos.

A campanha no Catarse oferece opções de apoio que vão desde a versão simples até edições com brindes exclusivos, ideais para colecionadores e fãs de tokusatsu (como, por exemplo, uma pedra da lendária pedreira da Toei, onde os duelos mais épicos eram rodados). Como nos projetos anteriores, a produção terá acabamento de alta qualidade, papel premium e design caprichado.

O projeto é comandado mais uma vez pela dupla Ricardo Cruz e Adriano Almeida.

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