Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

25 anos do espetacular Homem-Grilo

Grande defensor dos oprimidos (mas não tão fracos) de Osasco City, a criação de Cadu Simões segue firme e forte – inclusive sob licença livre Creative Commons

Por THIAGO CARDIM

Quando a gente fala da cidade de Osasco, em São Paulo, imediatamente o que vem na sua cabeça?Muito possivelmente, o tradicional cachorro-quente que, dizem, é um verdadeiro patrimônio nacional, certo? Pois saiba que a cidade também tem o seu super-herói local. Pois é. Um herói que inclusive foi destaque no programa Paulistar, da Rede Globo, durante a edição dedicada à cidade da Região Metropolitana de São Paulo, nascida como bairro mas depois emancipada em 1962 – que é, curiosamente, o ano do lançamento do Homem-Aranha.

Digo “curiosamente” porque este herói tipicamente osasquense é ninguém menos do que o Homem-Grilo. Que ganhou seus poderes, vejam vocês, depois de ser mordido por um grilo radioativo (se é que os grilos mordem, veja bem, mas essa conversa não importa neste momento). O justiceiro uniformizado, criado em 2000 por Cadu Simões, vive em Osasco City, uma versão megalópole da cidade real de Osasco, e suas histórias em quadrinhos são obviamente uma paródia ao universo dos super-heróis.

E, se você é minimamente funcional em matemática, deve ter feito as contas: em 2025, o Homem-Grilo completa seus 25 anos de estrada, numa luta total e completamente independente em plena vida real.

Embora a maior parte de suas histórias seja publicada gratuitamente em versão webcomics, no site https://homemgrilo.com/ (com o devido apoio de uma campanha de financiamento coletivo recorrente para pagar o trabalho de roteirista, desenhista, arte-finalista, colorista, letrista, diagramador, revisor…), o Homem-Grilo está atualmente em sua segunda campanha seguida para transformar estas histórias numa versão impressa, via Zapata Edições do igualmente incansável Daniel Esteves.

Na história “O Acelerador Genético”, nosso herói se vê no centro de uma intriga envolvendo uma invenção fabulosa, estudantes desaparecidos e a ameaça de um monstruoso grilo humanoide.

Um pouco de história… dentro das páginas dos gibis

Carlos Parducci era um jovem universitário como outro qualquer até ser mordido pelo tal do grilo radioativo, ganhando as habilidades proporcionais às desse inseto, além do sensacional sentido de grilo (que ele não sabe pra que serve, mas tudo bem). Carlos então resolveu fazer bom uso de seus novos poderes e assumiu a persona de Homem-Grilo – mas para ele, diferente do que acontece com um certo Peter Parker, mais do que uma grande responsabilidade, ser o Homem-Grilo é uma grande diversão, principalmente quando se tem a oportunidade de chutar a bunda de vilões megalomaníacos (e, segundo consta, está cheio deles em Osasco).

Por trás da máscara, Carlos e Peter têm muita coisa em comum: o brasileiro vive uma vida modesta e sem muita grana, cursando Ciências Sociais na Universidade de Osasco e morando em um pequeno apartamento alugado, que divide com seu amigo Vina. Além de se incomodar um tantinho com as frequentes comparações que sofre com outro ícone latino, o Chapolin Colorado, nosso Homem-Grilo se orgulha de ser tipo um Demolidor, que não tem medo de nada. Bom, de QUASE nada. Porque quando se trata de baratas…

Ao seu lado, estão a Garota Cri-Cri e o Cricket Rider – que, pelo nome, você deve imaginar ser tratar de um tokusatsu estilo Kamen Rider – e também outros heróis como Teia Negra (um alienígena milionário e sem poderes, uma mistura maluca de Batman e Superman), Camaleão Cinzento (um jovem cego criado nos esgotos pelo Mestre Gafanhoto, num mix de Demolidor e Tartarugas Ninja) e Musculoso (o poderoso e arrogante líder dos Vingadores da Justiça).

Já do lado dos vilões, temos toda a genialidade do Dr. Louva-a-deus (que foi o responsável pelo grilo que mordeu nosso protagonista, um misto de Norman Osborn e Doutor Octopus) e a ameaçadora carapaça do Homem-Barata – que, obviamente, apesar de ser apenas um cara de armadura, é um nêmesis bastante temido pelo Homem-Grilo…

Um pouco de história… fora das páginas dos gibis

Tal qual acontece com todo bom super-herói dos quadrinhos que se preze, embora tenha surgido em 2000, com um visual desenvolvido por Ricardo Marcelino, o Homem-Grilo passou por um reboot em 2021, ganhando uma nova arte sob a batuta de Fred Hildebrand, atualmente responsável pelo traço oficial do vigilante.

Esta nova fase foi premiada no 35º Troféu HQMIX, na categoria de Web Quadrinhos, e teve o lançamento de seu primeiro volume impresso em 2024.

Mas, da mesma forma que suas contrapartes ianques, o Homem-Grilo também vive em uma espécie de multiverso. Porque ele está liberado pelo autor via licença Creative Commons para ter versões e mais versões e múltiplas versões de si mesmo.

O próprio Cadu explica: “o Homem-Grilo, assim como seu universo fictício, está sob uma licença livre que lhe permite criar obras derivadas, desde que os devidos créditos sejam feitos e a mesma licença seja mantida”.

Então, vale praticamente tudo. Quadrinhos, ilustração, literatura, game, animação, RPG, música, grafite, modelagem, crochê, mashup, e por aí vai. “Só não vale usar essas I.A. generativas, pois a proposta aqui é celebrar a criação humana (isso sem falar de todos os problemas morais e legais que envolvem essas I.A. atualmente)”, explica ele.

Um exemplo recente? O quadrinista Jean Okada acaba de lançar a sua primeira edição impressa das histórias que ELE fez com o Homem-Grilo. Por conta própria.

O site oficial do Homem-Grilo deixa claro que a ideia com isso é promover uma produção anticapitalista de quadrinhos, que desvincule a noção de história em quadrinhos como uma mercadoria a ser vendida num mercado visando a acumulação de capital. “O objetivo é que seja priorizado pelos leitores o valor de uso dos quadrinhos como objeto artístico e cultural, e não seu valor de troca como mera mercadoria. Então, sinta-se à vontade para ler, compartilhar, imprimir, distribuir e criar obras derivadas a partir das nossas HQs”.

Por isso mesmo, a licença CC do Homem-Grilo também permite o uso comercial das obras derivadas, então os autores podem gerar renda com as obras criadas a partir do personagem do modo como quiserem. “E sem me dever absolutamente nada por isso”.

O autor diz que qualquer obra derivada com ele pode ser bem livre. Não precisa usar a mesma aparência, não precisa ser super-herói, não precisa nem mesmo ser homem… ou grilo. “Você só precisa usar algum elemento que remeta ao personagem, mas a escolha é sua. E, claro, se não quiser usar o Homem-Grilo, mas sim outros personagens de seu universo (como a Garota Cri-Cri ou o Cricket Rider), fique à vontade”.

Então, fica o convite: “bora lá comemorar esse marco contribuindo para a ampliação do griloverso por meio do copyleft e da cultura livre?”.

Post tags:
Post a Comment