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A Casa das Sete Mulheres: de livro pra série e agora HQ

A própria autora da obra original, Leticia Wierzchowski, escreveu pessoalmente a adaptação para os gibis, com arte da ilustradora Verônica Berta


Por THIAGO CARDIM

Há exatos vinte anos, a Rede Globo exibiu uma série que teve uma repercussão imensa, com exibição em mais de 40 países, chegando até mesmo em lugar como a China e o Afeganistão, geralmente mais fechados para este tipo de produção. Tamos falando de A Casa das Sete Mulheres, de Maria Adelaide Amaral e Walther Negrão, que trazia no elenco Camila Morgado, Giovanna Antonelli, Mariana Ximenes, Thiago Lacerda, Samara Felippo, entre outros. Muita gente, no entanto, não faz lá muita ideia de que a obra é inspirada em um livro, assinado pela escritora e roteirista Leticia Wierzchowski.

Com mais de 35 livros de ficção adulta e infantil publicados no Brasil e no exterior, ela colocou A Casa das Sete Mulheres no papel com o objetivo de entrar num tema tão “masculino” pela porta dos fundos, ao tratar do papel do feminino numa guerra. “Eu contei uma revolução do século 19, quando a história era escrita por e para homens”, explica ela, em entrevista exclusiva pro Gibizilla. Mas depois de ganhar uma primeira versão com extensos 50 capítulos televisivos, a autora decidiu que era a hora de revisitar a sua obra em outra plataforma: os quadrinhos.

“Como somos fãs de quadrinhos aqui em casa, sempre tive o sonho de levar esta história pra HQ. Foi assim que nasceu o livro – dessa minha vontade”. Numas férias de verão, ela mesma, pessoalmente, pegou o romance e fez o roteiro. “A partir daí, fomos em busca das parcerias necessárias para fazer a HQ”. Embora seja a primeira experiência da Letícia como escritora de gibis, o lado “leitora” sempre consumiu, além das adaptações de livros pra HQs, também obras de gente como Marjana Satrapi e Art Spiegelman. “É uma forma narrativa que me interessa bastante”.

Se você não conhece a história…

O livro mergulha o leitor em uma trama que revela os eventos tumultuados da Revolução Farroupilha (ou Guerra dos Farropos), um capítulo crucial na história do Brasil, motivado pela insatisfação dos estancieiros gaúchos com a política fiscal do governo do Brasil do século XIX. A treta começou em 20 de setembro de 1835 e durou praticamente uma década.

Com riqueza de detalhes, a obra de Letícia destaca a história de sete mulheres – Antônia, Caetana, Rosário, Ana, Perpétua, Manuela e Mariana – que enfrentam justamente 10 anos de confinamento na Estância da Barra, pertencente à família de Bento Gonçalves da Silva.

As páginas da obram retratam as batalhas particulares que essas mulheres vivenciaram enquanto uma guerra acontecia lá fora. A revolucionária Anita Garibaldi, embora não seja uma das “sete mulheres” do título, desempenha um papel fundamental na história – tendo sua coragem, determinação e luta pela liberdade amplamente exploradas na trama.

A Casa das Sete Mulheres
A Casa das Sete Mulheres

Um trabalho a quatro mãos

A HQ de 120 páginas é um lançamento da Maralto Edições, que trouxe para o projeto ninguém menos do que a excelente Verônica Berta. Quadrinista, ilustradora e colorista, ela é a autora da HQ Ânsia Eterna, finalista do prêmio Jabuti e indicada aos prêmios HQMIX e Angelo Agostini. Além disso, ela já tinha feito a adaptação para quadrinhos de Quincas Borba, de Machado de Assis, com roteiro de Luiz Antonio Aguiar.

“Assim, com a chegada da Verônica no projeto, começamos o trabalho”, conta a escritora. “Ela já tinha o meu roteiro e começou a criar esboços dos personagens, e assim por diante. Mudou algumas coisas, mexemos em outra, mas meu roteiro original está quase todo ali”. O processo todo, entre aprovações e adaptações, demorou cerca de dois anos.

Agora, para uma escritora acostumada apenas com as PALAVRAS, de que maneira ela acredita que uma adaptação em quadrinhos pode trazer um novo sabor para quem, de alguma forma, já conhece a obra? “A costura da palavra com os desenhos e a linha narrativa mais enxuta levam o leitor a uma experiência diferente”, explica ela. “É como ver um filme no papel. Acho que todos os leitores do romance vão gostar, e também vejo um alcance maior nos leitores mais juvenis, pela dinâmica do formato”.

Isso, obviamente, falando pelo ponto de vista de quem consome. Mas para ela mesma, a responsável pela obra original, a plataforma em formato gibi permitiu, por exemplo, ampliar a obra em alguns aspectos. “O que eu mais gostei foi poder trabalhar com a narradora, que é personagem Manuela, nos seus dois tempos narrativos: jovem e idosa”, afirma. No livro, ela se manifesta em primeira pessoa nos textos de um diário que vai passando pelos anos da sua vida (ela morreu com mais de 70, no século 19, foi muito longeva). “Na HQ, vemos essa mulher jovem e idosa contando do seu presente e lembrando do seu passado”.

No fim, se a sua única referência é de fato a série global, a autora diz ainda que esta versão é diferente em diversas nuances. “Ela está mais parecida com o livro. Além disso, a série foi extensa e a HQ tem uma narrativa enxuta, e isso muda tudo na história, eu escolho uma linha narrativa mais firme”.

O gibi faz parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa direcionada para escolas de todo o país.

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A Casa das Sete Mulheres
A Casa das Sete Mulheres
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