Jornalismo de cultura pop com um jeitinho brasileiro.

Charlie Mano Brown vai virar gibi!

Personagem surgido como toy art que virou queridinho dos eventos de cultura pop agora se junta à sua própria turma em sua primeira HQ – que já tá no Catarse

Por THIAGO CARDIM

Nos últimos anos, pra quem presta bastante atenção, os eventos de cultura pop – sejam eles enormes ou mais nichados como aqueles intimistas realizados pela Ugra, em São Paulo – trazem uma figurinha carimbada na forma de um toy art, um boneco produzido artesanalmente pelo paulistano da Zona Leste Rodrigo Motta, artista visual e educador.

Estamos falando, claro, do sensacional Charlie Mano Brown, uma mistura do azarado protagonista das tiras dos Peanutscom o afiadíssimo rapper dos Racionais MCs. Aos poucos, o garoto de camisa amarela e uma característica cara enfezada ganhou alguns parceiros – o robô Marcelinho (aka Marcelinho R2-D2), o Garrafinha (um crossover, digamos, incendiário entre o Dollynho e o Garfinho de Toy Story 4, gerando um coquetel molotov inusitadamente fofo) e obviamente o Caramelo, a versão BR do cachorrinho Snoopy.

Pois estas quatro figuras, criadas inicialmente como paródias em forma de bonecos independentes, agora vão de fato ganhar vida nas histórias em quadrinhos – dentro do gibi Turma do Castanho, que recentemente inaugurou a sua campanha de financiamento coletivo lá no Catarse.

Na história do gibi, o Caramelo encontra uma lata de spray enterrada num terreno e, no dia seguinte, Carlinhos (vulgo Charlie Mano Brown) a usa para fazer um grafite na parede. Mas a turma logo descobre que a lata não é bem o que parecia e embarca em uma aventura maluca para resolver os problemas que ela causou.

Quadrinhos na gênese de tudo

Rodrigo já tem experiência de longa data com gibis – ele é, por exemplo, autor de “Reminiscências”, tiras em quadrinhos finalista no Prêmio Miolo(s) e listada como um dos 30 melhores quadrinhos brasileiros de 2022 pelo perfil Páginas Amarelas HQs. Também atuou como educador no projeto “Fanzines nas Zonas de Sampa”, da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e que acabou vencedor do Troféu HQMix 2012 na categoria “contribuição”. Participou ainda do livro “Slam Interescolar”, ganhador do Prêmio Jabuti na categoria inovação em 2021 e ilustrou os livros “O Vendedor de Travesseiros” (2015), “Manual para ler as estrelas” (2018), “Doce Libertar” (2021).

Além disso, ele é criador de um importante espaço de cultura independente em SP, a Banca Curva, que obviamente tem tudo a ver com mundo editorial. Ou seja… quadrinhos, no fim, tão no DNA do cara.

“A mídia história em quadrinhos foi a responsável por eu estudar educação artística e se tornar artista visual e educador”, explica ele, na apresentação do projeto. “Sempre penso como posso desdobrar minhas ideias em outras mídias e produtos. Conforme fui trabalhando suas características, embalagens e nomes, fui automaticamente criando histórias de cada um em minha cabeça. O porquê de seus nomes, apelidos, costumes, realidades e origens. Com estas histórias formuladas senti a necessidade de contá-las, e nada melhor do que uma divertida história em quadrinhos”.

Para ajudar a fazer a Turma do Castanho virar realidade, Motta ficou com o roteiro, mas chamou dois amigos para ajudarem na arte. Os desenhos são do ótimo Leo Finocchi, quadrinista e animador 2D, autor de obras como “Hell No!” e “Djou”, além de ter trabalhado em séries e filmes como “Turma da Mônica”, “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, “Tromba Trem”, “Historietas Assombradas Crianças Malcriadas”, “Rick and Morty” e “My Little Pony: The Movie”. Rodrigo diz que que ele tem uma narrativa dinâmica, seus personagens possuem gestuais engraçados e trazem ótimos pontos de vista para a aventura.

Já a cor ficou a cargo do igualmente brilhante Wagner Willian, autor de “Silvestre” (DarkSide Books), história em quadrinhos vencedora do Prêmio Jabuti 2020, além de obras como “O Maestro, o Cuco e a Lenda” e “O Martírio de Joana Dark Side” (que tem prefácio da nossa Gabi Franco). O roteirista lembra que, além de um ótimo desenhista e escritor, Wagner também é um versátil pintor. “Além de criar telas com variados temas e formatos, ele já foi colorista de histórias em quadrinhos para editoras internacionais. Tem a capacidade de compor as cores, texturas e luzes de um quadro de uma página como se estivesse pintando uma tela”.

Importante reforçar que, além do quadrinho em si, a campanha no Catarse tem, claro, faixas de apoio que permitem levar pra casa cada um dos bonecos – ou, se você quiser um pouco a mais, os quatro duma vez só. Vale demais a pena. 😉

De acordo com o cronograma de impressão, as revistas de “A Turma do Castanho” serão enviadas em dezembro de 2025, a tempo da CCXP, é claro. Já os bonecos de resina são feitos artesanalmente e, portanto, os envios serão realizados no mês de janeiro de 2026.

Post tags: