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5 coisas que aprendemos com o final da 2ª temp de Pacificador

Depois do ótimo filme do Superman, que serviu como ponto de partida do novo DCU, parece que acabou a lua de mel de James Gunn com os fãs… MAS CALMA, NADA TEMA, QUERIDA NAÇÃO BRASILEIRA! 😀

Por THIAGO CARDIM

Quando já existia uma saturação real e oficial das sombras e dentes trincados do universo cinematográfico da DC conduzido e inspirado por Zack Snyder, o anúncio de que James Gunn pularia o muro da Marvel para cuidar dos personagens da Distinta Concorrência (junto com o parça Peter Safran) foi considerado por muitos como uma benção, um anúncio quase comparável à escolha de um novo Papa. Afinal, que o cara sabe lidar com o mundinho dos super-heróis já tava claro, tanto por seu trabalho com a trilogia dos Guardiões da Galáxia quanto com o único filme que vale do Esquadrão Suicida.

Eis que veio o novo longa do Superman e com ele a consagração: à exceção daquele bando de snyderzetes dedicados que só estariam de fato felizes se Zeca Splinter fosse trazido de volta com poderes totais, a produção fez os fãs do universo dos hominhos enfim sorrirem, enfim perceberem que a luz do sol existe e que não é preciso ter medo de colocar os personagens em roupas multicoloridas, flertando com a galhofa e se enxergando como uma real adaptação de gibi.  

Pois muito que bem. Então chegou a segunda temporada de Pacificador e, com ela, um último capítulo bastante… divisivo, eu diria. Porque teve um bocado de gente que esperneou, deu chilique, arrancou a cueca pela cabeça. E ao ler os comentários de parte dos espectadores inconformados (inclusive alguns grandes amigos deste que vos escreve, preciso dizer), dá pra perceber que a lua de mel está definitivamente encerrada e Gunn vai ter que encarar puxões de orelha cada vez mais fortes mesmo daqueles que até ontem eram seus devotos mais fiéis.

Falando sob um ponto de vista PESSOAL, confesso que gostei bastante de como ele encerrou a história de Christopher Smith (pelo menos até o momento). Porque, no fim das contas, ele estava conduzindo a jornada do Pacificador, numa trama sobre o Pacificador e que se fecha em si mesma ao dar uma conclusão (ou quase isso) para a redenção do Pacificador. Ponto. Me pareceu uma pegada bastante humana que, apesar de construir pelo menos dois elementos bastante definidores do futuro DCU, se preocupou de fato com o personagem principal, que começou a questionar a sua própria história e o ser humano que ela o forçou a se tornar.

Como disse o querido Mike Sant’anna, é também uma discussão bem interessante sobre a toxicidade da masculinidade, mostrando personagens homens quebrados, sem respostas, tentando descobrir o quanto seria possível ser eles mesmos sem que isso significasse responder ao padrão machão violento que a sociedade espera de cada um de nós.

Maaaaaaaaaaaaaaaas… Deu pra sacar, entre posts irados, comentários enfurecidos, análises em vídeo cuspindo fogo e mesas de bar com toda uma série de tiradinhas 5ª série, que é possível aprendermos umas coisinhas com este final da segunda temporada do Pacificador. E eu listo aqui pelo menos CINCO aprendizados interessantes, que valem demais não só pras próximas produções do Gunn, mas também para os filminhos da inimiga-irmã Marvel.

A saber…



Personagens evoluem – nem que seja pra PIOR
Vi muita gente reclamando sobre o Rick Flag Sr. teoricamente não se parecer em nada com o Rick Flag Sr. que vimos em Comando das Criaturas – mas eu discordo 215%. Porque a sua versão na série animada já era um arrombado, capaz de passar por cima de qualquer um para conseguir o que quer e, mais do que isso, aquilo que ele acha CERTO. A diferença é que, ali, ele estava enfrentando um inimigo ainda mais arrombado do que ele. Só que em Pacificador, Rick Pai está diante do homem que matou o seu filho. Ele está diante da chance real de concretizar a sua vingança. E tem a chance de se conectar com um bilionário biruta que lhe daria todos os meios para enfim punir o sujeito que tanto odeia. Num universo estendido, em que personagens aparecem em múltiplas produções, é preciso entender que eles podem crescer de outras formas e ganhar camadas. Se forem sempre a mesma coisinha bidimensional, vai ser de fato UM SACO (até porque já são heróis de gibi de hominho, né?). Afinal, nós somos nós mesmos mas, digamos, somos um tantinho (e em alguns casos, bem mais) diferentes em casa do que somos no ambiente do trabalho, por exemplo.



Nem toda história de hominho precisa ter lutinhas
Sabe o motivo pelo qual eu gosto tanto da atual versão Ultimate do Homem-Aranha? Não é apenas por ENFIM termos um Peter mais velho, longe da eterna adolescência que dura desde os anos 1960, mas também por termos mais uma vez a compreensão de que a grande graça dos seus gibis está em Peter Parker e não no Homem-Aranha. Desde sempre, as melhores HQs do Cabeça de Teia são aquelas em que a sua humanidade por trás dos olhos esbugalhados é a estrela. Os diálogos, a tensão, as discussões, o carinho, tudo isso vale mais do que dois mascarados se estapeando. A responsabilidade, no caso, vale bem mais do que grandes poderes. Portanto, também num filme que adapta hominhos pros cinemas ou numa série que adapta hominhos pra TV ou pro streaming, dá pra esperar mais do ápice duma boa história do que apenas e tão somente uma lutinha genérica, né?



Nem toda história de hominho precisa ter infinitas participações especiais
Definitivamente, a Marvel deixou a turma MUITO mal-acostumada com esta coisa de que todo filme/série serve a um contexto maior e, portanto, precisa ter aquela cena pós-créditos bombástica ou então um par de participações especiais épicas. “Ah, mas o James Gunn prometeu…”. Sim, ele prometeu e cumpriu: o último episódio traz a sensacional participação especial dos irmãos Nelson – que faz MUITO mais sentido pro personagem do Pacificador ao qual fomos apresentados desde a primeira temporada do que, sei lá, aparecerem heróis da antiga Charlton Comics como Capitão Átomo ou o Besouro Azul original, como muitos fãs vinham especulando há semanas. Ou então Keith, o irmão de Chris, se tornar o supervilão X da vez. Não era o momento. Não AINDA. Pacificador é sobre o Pacificador e APENAS isso. Permitir que um CAMEO (como dizem os americanos) se torne mais importante do que o restante da história é uma cagada suprema.



A expectativa é a mãe da decepção
“Quando uma ideia de roteiro aparentemente funciona na SUA cabeça, mas nem sequer passou pela mente dos roteiristas de uma série, digamos que ficar frustrado com o resultado final diz mais sobre VOCÊ do que sobre a série em si”. Sabe quem escreveu isso? Eu mesmo, lá em 2021, falando sobre WandaVision e um bando de gente que ficou frustrada porque construiu a narrativa de que CLARAMENTE o Mefisto apareceria. Ou o Doutor Estranho. Ou o Magneto. Ou sei lá mais quem. Teorias de fã são divertidas pela tiração de sarro em grupos de WhatsApp, em reuniões no boteco mais próximo, em encontros pra uma pizza na casa dos amigos (todos os exemplos aqui são reais da minha própria vida, no caso, hahaha). Mas teorias de fãs NÃO são divertidas quando elas te impedem de se divertir – e isso deveria ser óbvio, mas muitas vezes não é. Quando te impedem de curtir o trabalho que o diretor, o roteirista e toda a equipe por trás daquela obra prepararam de fato. Quando você estiver trabalhando em Hollywood, aí a gente conversa.



Os coleguinhas podem ter opiniões diferentes – não é demais?
Permitam-me aqui encarnar o Professor Cardim. Ou talvez o Tio Cardim, dependendo da sua idade. Porque é assim… se você é do tipo que manda “ah, se você gostou disso, é porque obviamente não entendeu” ou então “ih, se você não gostou disso, é porque claramente não é um fã de verdade”, tenho uma notícia pra te dar. Você é um BABACA. Porque muita gente pode não gostar de algo que você gosta. E muita gente pode gostar de algo que você não gosta. E… vejam só, tenho um grande segredo da humanidade pra te revelar… TÁ TUDO BEM. Opiniões diferentes são boas. Opinião diferentes geram diversidade e DEVERIAM gerar boas discussões.

…a não ser, é claro, que a sua opinião seja a favor de racismo, nazismo, fascismo, machismo, homofobia e por aí vai. Porque aí você é apenas um LIXO HUMANO e eu quero que você se foda.

De resto… vamos respeitar os gostos do coleguinha, né? 😉

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Os oito episódios da segunda temporada da série do Pacificador (Peacemaker) já estão disponíveis no HBO Max.